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CRÓNICA
Brasil mostra o umbigo (*)
Favela não é mais manifestação isolada da estética nacional. Volto de férias 8 mil quilômetros mais rodado para dizer-vos o seguinte: barrigas de fora – as grandes, inclusive – são hoje expressão cultural tão disseminada no país quanto puxadinho em laje de barraco. Brasil afora, o piercing no umbigo virou acessório tão freqüente na paisagem quanto antena parabólica em comunidades de beira de estrada.
Sem preconceitos, acho verdadeiramente lindo quando uma adolescente meio desengonçada desafia todos os padrões de beleza impostos à sua geração para explorar sensualidade na própria abundância abdominal, mas, convenhamos, há limites para tudo. Certos umbigos – sabes muito bem do que estou falando – deveriam ser proibidos à exposição pública. Deixa pra lá, não quero aqui me estender nesse aspecto até para não ganhar a adesão do movimento Basta!. Barriga de fora é uma coisa, bolha de indignação é outra.
No início das férias estive em Bonito (MS) por recomendação do Zuenir Ventura, que no lugar ficou famoso ao perder a hora de sua palestra em seminário olhando umbigos na praça. Justificou-se depois, aqui mesmo em NoMínimo, dizendo-se hipnotizado pela beleza de um azul nunca visto no lago de uma gruta, bla-bla-blá... Cascata! Vi com meus próprios olhos: até as índias terenas já estão de piercing no umbigo. Lá no meu hotel tinha uma gracinha descendente da tribo que usava uma pedrinha, coincidentemente azul, linda como a descrição do jornalista para a gruta que o fez perder a hora da palestra, bla-bla-blá...
Meu velho amigo perderia o rumo de vez se estivesse cumprindo agenda cultural em Blumenau. Não que na terra da Hering os umbigos das meninas sejam mais bonitos do que no resto de Santa Catarina. Em Florianópolis e Guarda do Embaú, por exemplo, as namoradas dos surfistas sabem como poucas mulheres do mundo o que fazer com a barriga. A questão é que em Blumenau as donas de alguns dos umbigos mais incríveis do Brasil estão por todos os lados, em qualquer ponto de ônibus, carrocinha de sorvete, quiosque de incensos, balcão de farmácia... O Zuenir teria um treco se fosse ao shopping da cidade.
Não sei se por conta da crise na indústria de malhas na região, em Blumenau todas as mulheres deixam à mostra uma faixa de cinco a dez centímetros de pele clara entre o cós da calça e a bainha da blusa. Nada demais, não fosse a caixa do banco os cornos da Vera Fischer. A vendedora das Casas Bahia parece clone da Ana Paula Arósio, tem Maitê Proença aos montes trabalhando em lanchonetes, posso jurar que Maria Fernanda Candido tem uma irmã gêmea que vende produtos esotéricos num quiosque de galeria.
Com todo respeito às salsichas alemãs, à cerveja Erdinger, ao Kassler com chucrute, à arquitetura européia, aos homens que fazem vidros no sopro, à aparente tranqüilidade que reina naquele centro urbano do Vale do Itajaí, Blumenau é terra de mulher bonita. Ouso dizer que, sob o ponto de vista do umbigo, a cidade é uma das mais lindas do Brasil, lugar pra ser visto de joelhos.
De Blumenau, fui para Guarda do Embaú, onde cheguei a uma conclusão dura para alguém como eu, que já foi cabeludo e usou sandálias de pneu. É o seguinte: não tenho mais nenhuma paciência para os hippies, aí incluídas as meninas que não lavam o umbigo. Falo sobre isso na próxima.
(*) por Tutty Vasques. Aqui
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