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No rastro da felicidade (*)
26.02.2005 | É sempre assim: quando vou a Santa Catarina custo na volta a escrever sobre outro lugar. Minha relação com aquela terra é um romance sem fim e, juro, os umbigos das mulheres de Blumenau nada – ou pouco – têm a ver com isso. A imundice hippie de Guarda do Embaú também não atrapalha em nada o bem-estar que me toma de assalto quando chego por lá. Se querem mesmo saber, nem os argentinos me incomodam. Entro em transe quando as estradas de São Paulo e Paraná ficam para trás. Sinto-me especialmente em casa quando subo o Caminho do Rio do Rastro, onde me hospedo em hotel-fazenda de mesmo nome no topo de uma região de cânions e penhascos que somem e reaparecem ao sabor do balé das nuvens sobre a relva. Me emociono. Sentado na varanda de um daqueles chalés, como dizia o poeta, “resta a imensa vontade de chorar diante da beleza”.
O hotel fica em Bom Jardim da Serra, irmã mais pobre de São Joaquim e Urubici, circuito brasileiro da neve. De junho a agosto, a região vive entupida de gente morrendo de frio à espera de um punhado que seja de flocos brancos caídos do céu sobre os gorrinhos de tricô. Em janeiro e fevereiro, quando subo a antiga trilha de tropeiros, o lugar está sempre às moscas. São elas, eu, as seriemas, as gralhas azuis, cobras, cachoeiras, o friozinho do verão, 8 graus de manhã cedinho – 15, à tarde. Bebe-se vinho e come-se arroz carreteiro no restaurante Nossa Senhora das Nuvens, à beira do grande lago das trutas. Meus filhos vestem casaco, descansam a pele do sol escaldante que nos abençoava na véspera rio acima de Guarda do Embaú. Em questão de horas, o verão virou ficção.
Dessa vez tive o prazer de conhecer no Rio do Rastro o engenheiro Ivan Cascaes, que a exemplo de Paulo Zulu em Embaú, cuida de todos os detalhes de seu hotel. Divide seu tempo entre Florianópolis e Bom Jardim da Serra, tem por aquelas matas carinho de ambientalista, mantém com os hóspedes proximidade e discrição na medida certa, nem sempre respeitada pelos hoteleiros. Faz churrasco com sanfoneiros (gaiteiros) no curral, conta lendas da região, o prazer de receber bem é o negócio dele.
Ivan Cascaes, assim como Paulo Zulu, é um apaixonado pelo seu negócio. Diferentemente dos resorts caros e impessoais e do turismo do desconforto em pousadinhas de dois tostões, Zulu e Cascaes trabalham para transformar a estadia de seus hóspedes em momentos inesquecíveis com direito a tudo que se precisa para isso: uma boa cama, bom banho, boa comida e companhias agradáveis. O resto fica por conta da natureza.
Esse é, lamentavelmente, um tipo de turismo em extinção no Brasil. Zulu e Cascaes conseguem, no máximo, empatar receita e despesas de suas pousadas. O capricho, como se sabe, está saindo de moda no Brasil. Se eu fosse vocês, visitava os dois endereços abaixo nas próximas férias. Não há amor que sustente negócios deficitários por muito tempo.
Rio do Rastro Hotel Fazenda - Rod. SC- 438 - Km 130 - Bom Jardim da Serra – SC.
Pousada Zululand - Guarda do Embaú – SC, tel. (48) 2832093
(*) por Tutty Vasquez. AQUI
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