Projeto analisou o passado e o presente do pau-brasil
05/05/2005 (*)A história do pau-brasil (Caesalpina echinata), árvore símbolo da nação brasileira, acaba de ser recontada. Um projeto multidisciplinar, que durou quatro anos, investigou todos os aspectos da planta, desde sua importância histórica até formas para que ela seja preservada no meio ambiente. Documentos consultados pela primeira vez em Portugal revelam que a importância da árvore é muito maior do que se imaginava.
“Os estudos feitos em Portugal possibilitaram calcular o quanto de pau-brasil havia sido explorado, pelo menos de forma oficial, pelos portugueses”, disse Yuri Tavares Rocha, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP. Os estudo contou com financiamento da FAPESP.
Entre os séculos 16 e 18 foram cortadas oficialmente no Brasil 466.518 árvores, com 15 metros de comprimento, de pau-brasil. Essas estimativas estão baseadas em cerca de 800 documentos estudados por Yuri. “Dentre os europeus envolvidos com o comércio do pau-brasil, os holandeses foram os que mais se destacaram nessa atividade, tanto pela extração de corantes como pela utilização deles nas fábricas holandesas”, explica.
Pelos resultados do trabalho está claro, segundo o pesquisador, que o pau-brasil não foi importante apenas no início da colonização. “Mesmo depois da cana-de-açúcar, ele continuou sendo uma fonte de corante vermelho fundamental para a indústria têxtil”, conta.
A conseqüência da exploração do pau-brasil não teve apenas desdobramentos econômicos. “A transformação das feitorias em vilas e povoados ocorreu apenas por causa do ciclo do pau-brasil, ao contrário do que afirmam alguns autores”, diz Yuri.
O estudo reforça também a tese de que a ocorrência dessa planta foi determinante na tentativa de se formar a França Antártica (colonização francesa no Rio de Janeiro) e na descoberta de condições ideais para o cultivo da cana-de-açúcar.
O enfoque sobre o pau-brasil não recaiu apenas sobre o seu passado histórico. O projeto, que contou com a participação de várias outras instituições de pesquisa, também tentou desenvolver formas para que a planta símbolo do país possa continuar a ser vista pelas futuras gerações.
“Infelizmente, existem duas grandes pressões contra a manutenção da espécie in situ”, afirma Yuri. O pesquisador refere-se à fragmentação da Mata Atlântica e ao corte e à exploração ilegal da madeira, que ainda continua. A árvore é muito procurada hoje para a montagem de instrumentos de corda, como os violinos.
“Em relação ao primeiro caso, uma das saídas é estudar os fragmentos e transformá-los em unidades de conservação.” o caso da Usina Coruripe, no sul de Alagoas, e da Destilaria Baía Formosa, no sul do Rio Grande do Norte, poderiam ser feitas reservas particulares de patrimônio natural, explica Yuri.
“Essas duas áreas são exemplos que devem ser seguidos, pois mantêm matas com populações importantes de pau-brasil, que não estão sendo conservadas de forma eficiente”, diz. Sobre o segundo problema, a única saída é aplicar o conceito do manejo sustentável.
Em termos de conservação ex situ (fora do local de origem), o projeto pau-brasil obteve outro resultado importante. Pesquisas realizadas pela equipe de Cláudio José Barbedo, pesquisador do Instituto de Botânica da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e vice-coordenador do projeto, mostraram que as sementes da planta podem ser conservadas por até 18 meses. Esse período é seis vezes maior do que se tinha conseguido até hoje.
(*) Por Eduardo Geraque
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