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quarta-feira, julho 06, 2005


[16:43]

Incêndios: Risco máximo de fogo em cinco distritos - Agência Prevenção Incêndios


Cinco distritos de Portugal continental estão classificados com o risco "máximo" de incêndio, seis em grau "muito elevado" e cinco "elevado", segundo as previsões para quinta-feira divulgadas hoje pela Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais (APIF).

Os distritos de Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Viseu e Castelo Branco encontram-se sob risco "máximo", enquanto Braga, Porto, Aveiro, Guarda, Coimbra e Leiria estão com alerta "muito elevado".

A APIF colocou em grau de alerta "elevado" para quinta-feira os distritos de Lisboa, Santarém, Beja, Évora e Faro.

De acordo com as previsões deste organismo, somente os distritos de Setúbal e Portalegre têm um risco "moderado" de incêndio.

A escala de classificação usada pela APIF, um organismo do Ministério da Agricultura, vai de um até cinco, sendo o primeiro equivalente ao "reduzido" seguindo-se o "moderado", o "elevado", o "muito elevado" e o quinto corresponde ao "máximo".

As previsões da APIF abrangem apenas os 18 distritos de Portugal Continental.





 


Postado por Ana M.C_Portugal

 



[16:14]

Ambiente: Má qualidade do ar custa à UE 200 mil milhões por ano em saúde


Bruxelas, 06 Jul (Lusa) - A Comissão Europeia revelou terça- feira que a má qualidade do ar custa 200 mil milhões de euros por ano aos serviços de saúde europeus, levando o Parlamento Europeu a aprovar uma resolução a favor das tecnologias ambientais.

O Parlamento aprovou o "Plano de Acção a favor das tecnologias ambientais", proposto pela Comissão para "reduzir a pressão sobre os recursos naturais e melhorar a qualidade de vida dos europeus".

Ao mesmo tempo, o comissário europeu para o Meio Ambiente, Stavros Dimas, apelou às instituições comunitárias para fazerem "algo mais" para evitar a contaminação do ar, que provoca 350 mil mortes prematuras e custa 200 mil milhões de euros aos serviços de saúde dos países comunitários.

A contaminação do ar causa "problemas respiratórios, bronquites e mortes prematuras", recordou Dimas, pedindo ao parlamento para apoiar a estratégia comunitária para esta área, incluída num pacote de sete medidas previstas para o ambiente.

Mesmo se as políticas actuais resultarem, se não for feito "algo mais", em 2020 as mortes prematuras anuais continuarão a ser cerca de 270 mil e haverá "graves riscos" para cerca de um milhão de quilómetros quadrados de ecossistemas.

A maioria dos cidadãos europeus "vêem um claro valor acrescentado" numa acção comunitária em relação ao ambiente, argumentou.

Dimas frisou que políticas ambientais correctas só favorecem a economia, ajudando à criação de empregos, e que a contaminação do ar e os problemas de saúde associados custam às empresas 150 milhões de dias de trabalho em cada ano.

A resolução adoptada terça-feira pelo Parlamento Europeu visa também contribuir para a competitividade e o crescimento económico e garantir que a União Europeia tenha nos próximos anos "um papel de liderança no desenvolvimento e aplicação das tecnologias ambientais", um sector onde há "muitas oportunidades" para as empresas.





 


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[16:00]

PR/Paraguai: Jorge Sampaio inicia visita com política e economia na agenda


Assunção, 06 Jul (Lusa) - O Presidente da República inicia hoje uma visita oficial ao Paraguai, primeira etapa de uma deslocação que o levará ao Chile, para aprofundar as relações económicas e políticas e "dar mais visibilidade" a Portugal na América Latina.

O Paraguai, primeira paragem do périplo que termina sábado no Chile, tem um interesse especial para Portugal por ser membro do Mercosul, organização a que pertence também o Brasil e que está a negociar com a União Europeia um acordo de cooperação.

Na curta estadia em Assunção, onde chegou terça-feira à noite, Jorge Sampaio manterá hoje um encontro com o seu homólogo paraguaio, Nicanor Duarte Frutos, visitando em seguida o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal de Justiça.

O Presidente viaja com uma comitiva de 27 empresários, entre os quais o presidente do ICEP, João Marques da Cruz, representantes de bancos nacionais e de empresas de construção civil.

No plano económico, estará em destaque o investimento agro- pecuário do grupo Espírito Santo, presente neste país da América Latina há cerca de 30 anos.

Hoje à noite, a comitiva presidencial parte para Santiago, dando início na quinta-feira a uma visita de três dias ao Chile, em que as relações políticas e económicas bilaterais estarão em evidência.

O Chile é uma das economias mais dinâmicas da região da região e o terceiro mais importante parceiro comercial de Portugal na América Latina, depois do Brasil e do México.

Na passagem por terras chilenas, onde estão presentes 25 empresas portuguesas, serão assinados acordos para evitar a dupla tributação, completando, assim, o quadro jurídico das relações económicas bilaterais, e um acordo para a protecção dos investimentos, estando ainda previstos contactos entre as indústrias de Defesa dos dois países.

Na quinta-feira de manhã, Jorge Sampaio é recebido pelo seu presidente chileno, Ricardo Lagos, e inaugura um busto de Camões numa das principais avenidas da capital chilena.

Com a viagem ao Chile e Paraguai, Jorge Sampaio completa um ciclo de deslocações à América Latina ao longo dos seus dois mandatos, que incluiu visitas oficiais ao Brasil, México, Venezuela e Uruguai, e participações em cimeiras ibero-americanas.





 


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[15:58]

Colecção de arte de Champalimaud começa hoje a ser leiloada em Londres


A colecção de arte do empresário português António Champalimaud, falecido no ano passado, começa hoje a ser leiloada em Londres pela prestigiada casa de leilões Christie's, podendo ser licitada por um total de 22 milhões de euros.

Em leilão vão estar 30 quadros e mais de 170 objectos ou antiguidades, entre as quais algumas peças únicas de mobiliário francês (Luís XVI), porcelanas orientais, pratas e tapeçarias.

A colecção, considera no catálogo da Christie's como a "venda da época", poderá regressar a Portugal, na medida em que "há muitos portugueses interessados em comprar peças", que até já fizeram "ofertas muito competitivas", segundo o vice-presidente da leiloeira, o também português Pedro Girão.

A prestigiada casa britânica espera que o lote total possa ser vendido por mais de 22 milhões de euros, tendo em conta que se trata de "uma das melhores colecções privadas que passou pela Christie's desde sempre".

A principal atracção do leilão, que se prolonga até quinta- feira em Londres, é uma obra não datada do pintor italiano António Canal, ou Canaletto (século XVIII), avaliada em oito milhões de euros (1,6 milhões de contos).




 


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[15:54]

Paleontologia: Descoberta primeira pegada de dinossáurio no Alasca


Anchorage, Alasca, 06 Jul (Lusa) - Um estudante norte-americano descobriu uma pegada fossilizada de um dinossáurio num parque nacional no Alasca, numa indicação de que este tipo de animais povoou a região há 70 milhões de anos.

Anthonyo Fiorillo, curador do Museu Nacional de História Natural de Dallas (Texas), disse que a pegada, encontrada a 27 de Junho, mede pouco mais de 20 centímetros de largura e parece corresponder à extremidade inferior de um terápode.

"Parece ser a pegada de uma pata de uma ave gigantesca, mas na realidade trata-se da pegada de um dinossáurio carnívoro", afirmou em conferência de imprensa.

Acrescentou tratar-se da primeira pegada de um dinossáurio descoberta no interior do Alasca. Outros achados semelhantes ocorreram numa zona próxima do rio Colville, perto do Árctico, muito perto do mar.

"Não é necessariamente a pegada que é importante para nós. É o lugar onde foi encontrada que nos entusiasma, pois confirma que o ecossistema era totalmente diferente", indicou Fiorilli.

Acrescentou que as temperaturas na gélida região próxima do Árctico eram muito mais quentes há 70 milhões de anos.




 


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[15:53]

Bush garante que Presos de Guantanamo são "bem tratados"


Copenhaga, 06 Jul (Lusa) - O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou hoje que os presos de Guantanamo, em Cuba, são "bem tratados" e que a situação na base militar norte-americana é de "total transparência".

Os detidos em Guantanamo terão um "julgamento justo" depois dos tribunais norte-americanos decidirem, caso a caso, se estes serão julgados pelos tribunais civis ou militares, prometeu Bush, durante uma conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, em Copenhaga.

Depois de indicar que Fogh Rasmussen lhe tinha expressado a sua preocupação pela situação daqueles detidos, que começaram a ser transferidos para Guantanamo durante a guerra no Afeganistão há dois anos e meio, Bush afirmou que já foram "enviados muitos para casa" e recordou que a maioria desses prisioneiros foi capturada "no campo de batalha".

A Cimeira do Grupo dos Oito (França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Canadá, Estados Unidos, Japão e Rússia), que hoje se inicia em Gleneagles na Escócia dominada pela ajuda a África e mudanças climáticas, também foi abordada na reunião com o primeiro-ministro dinamarquês, referiu o Presidente dos EUA.

Sobre às mudanças climáticas, o chefe de Estado norte-americano afirmou que queria deixar para trás a polémica sobre o Protocolo de Quioto, que obriga à redução das emissões de dióxido de carbono e que os EUA não subscreveram, o único país do G8 que não o fez.

Ao contrário, Bush considera que "há uma melhor maneira de avançar" e defende uma maior investigação em novas tecnologias que permitam "controlar a emissão daqueles gases tanto quanto possível".

O Presidente manifestou interesse em partilhar esses pontos de vista "não só com os países do G8 mas também com a China e a Índia, que fazem parte dos países convidados para a reunião".

Como países convidados, pela presidência britânica do G8, assistirão à Cimeira de Gleneagles, a Índia, a China, o México, o Brasil e a África do Sul.

Por seu lado, o primeiro-ministro dinamarquês instou o Presidente norte-americano e os países do G8 a conceder prioridade à ajuda a África e lançou um apelo para pôr fim aos subsídios agrícolas para facilitar um comércio justo com os países pobres.

Bush - que hoje faz 59 anos, está na Dinamarca para agradecer àquele país a contribuição que deu à coligação internacional no Iraque.





 


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[15:50]

Açores: Governo propõe que Graciosa e Corvo sejam reserva da biosfera


Ponta Delgada, 06 Jul (Lusa) - O Governo açoriano vai propor a classificação das ilhas Corvo e Graciosa como Reservas da Biosfera da UNESCO, o que permitirá potenciar a visibilidade turística e interesse científico pelo arquipélago, anunciou o director regional do Ambiente.

Eduardo Carqueijeiro adiantou à Agência Lusa que a classificação das duas ilhas açorianas, que será discutida hoje na reunião da Rede do Atlântico Este de Reservas da Biosfera (REDBIOS), constitui uma "mais valia", uma vez que possibilita intercâmbios científicos e a divulgação mundial do arquipélago.

Da responsabilidade da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), a rede mundial de Reservas da Biosfera inclui zonas classificadas em todos os continentes.

O Paul do Boquilobo, situado junto ao rio Tejo, é a única área protegida portuguesa integrada nesta rede desde 1980, que inclui outras centenas de zonas no Mundo como o Pantanal e a Amazónia Central (Brasil), Yellowstone e Deserto Mojave (EUA), Monte Olympus (Grécia) e o delta do Rio Vermelho (Vietname).

O Corvo, a ilha mais pequena do arquipélago açoriano, tem cerca de quatro centenas de habitantes, enquanto que a Graciosa, localizada no Grupo Central dos Açores, possui pouco mais de cinco mil pessoas.

Eduardo Carqueijeiro adiantou que o processo, que deverá demorar cerca de dois anos até à decisão final, está ainda no início, embora os especialistas presentes na ilha de São Miguel para a reunião do REDBIOS já se tenham demonstrado favoráveis à classificação das duas ilhas açorianas.

"A Reserva da Biosfera tem como principal função a defesa e protecção da biodiversidade, o desenvolvimento sustentado e o conhecimento científico", explicou o director regional do Ambiente.

Este instrumento de planeamento, que conta já com 482 classificações no Planeta, poderá ser ainda alargado a outras ilhas, pois, segundo Eduardo Carqueijeiro, "o processo não está fechado".

O programa, que concilia interesses humanos e ambientais prevê, tal como a classificação de património mundial da UNESCO, verbas de apoio ao desenvolvimento de actividades sustentáveis, às quais os Açores poderão candidatar-se caso a classificação lhe seja conferida.

Actualmente, 112 países já contam com espaços classificados com o título de reserva da biosfera.





 


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[15:49]

G8: Polícia anula manifestação prevista, organização diz que vai mantê-la


Gleneagles, Reino Unido, 06 Jul (Lusa) - A polícia britânica anunciou hoje que foi anulada, por razões de segurança, a manifestação de protesto prevista para a abertura da cimeira do G8 em Gleneagles (Escócia), mas a organização informou que tenciona mantê-la apesar da proibição.

"Houve muitos tumultos, muitos actos de delinquência. É muito perigoso avançar (com a manifestação prevista). Estamos a aconselhar as pessoas a não virem para cá", disse à imprensa um porta-voz da polícia britânica, referindo-se aos confrontos registados hoje de madrugada.

Pouco depois, o porta-voz do "G8 Alternativo", Mark Brown, disse por seu turno à imprensa que a organização "mantém a manifestação".

"A polícia pode dizer o que quiser. Nós continuamos a negociar com eles", acrescentou.

"Ainda não sabemos a que horas vai começar", disse por seu lado Maureen Watson, membro da organização da manifestação, inicialmente prevista para as 12:00 (mesma hora em Lisboa) e para a qual esperam a participação de cerca de 5.000 pessoas.

Milhares de manifestantes estão hoje a convergir para Gleneagles, onde entre hoje e sexta-feira os líderes dos sete países mais ricos do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália Reino Unido e Japão) e da Rússia vão discutir nomeadamente a luta contra a pobreza extrema em África e as alterações climáticas.

Hoje de madrugada, dezenas de manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia quando as forças de segurança tentaram impedir-lhes o acesso ao centro de Gleneagles (70 quilómetros a norte de Edimburgo).
G8: Confrontos entre manifestantes e polícia no primeiro dia da cimeira

Dezenas de manifestantes envolveram-se esta madrugada em confrontos com a polícia quando tentavam cortar uma das estradas de acesso a Gleneagles, na Escócia, onde hoje à tarde se inicia a cimeira do G8.
Mais de uma centena de activistas vestidos de negro, muitos com as caras tapadas com lenços ou encapuzados, partiram vidros de carros estacionados e atiraram pedras à polícia perto de Gleneagles, em Stirling, onde cerca de 5.000 anarquistas e militantes anti- globalização estão acampados, segundo repórteres no local.
Um porta-voz da Polícia Central da Escócia confirmou que alguns agentes foram atacados na madrugada de hoje em "incidentes isolados" e previu grandes congestionamentos de trânsito na região, em consequência do encerramento da auto-estrada M9, principal via entre Gleneagles a Edimburgo, a capital da Escócia.
Na segunda-feira registaram-se também incidentes na capital escocesa entre manifestantes e polícias, que terminaram com a detenção de cerca de cem pessoas.
A polícia reforçou a segurança em Edimburgo, onde se hoje se realiza uma manifestação organizada pelo músico e activista irlandês Bob Geldof, que pede aos líderes do G8 que atenuem a pobreza em África.
Geldof espera que um milhão de pessoas participem nesta manifestação, enquanto que outra marcha tentará avançar até ao hotel de Gleneagles para protestar contra o G8.
Os líderes dos países mais ricos do mundo e a Rússia iniciam esta tarde a sua reunião no luxuoso Hotel Gleneagles, em redor do qual foi montado um muro de aço de cinco quilómetros de perímetro.
CM.

Na sequência desses confrontos, segundo a polícia, 16 pessoas foram detidas.




 


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[15:33]

Matosinhos: "Portugal Eléctrico" regressa com Gabriel Pensador e "Babado Novo"


A banda brasileira "Babado Novo" e o rapper Gabriel Pensador são os cabeças-de-cartaz da 5ª edição do "Portugal Eléctrico", um festival de estilo carnavalesco que vai decorrer a 22 e 23 na marginal de Matosinhos.

Esta será a primeira vez que a banda "Babado Novo", considerada como uma revelação do "axé music" (fusão de ritmos nordestinos, caribenhos e africanos), actuará em Portugal (dia 22), depois de cumprir uma tournée nos Estados Unidos.

Já Gabriel Pensador (dia 23) dará a conhecer o seu lado musical mais electrónico, apresentando "um agitar mais forte que os anteriores".


 


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[15:30]

UE/Energia: Comissão insta Portugal a adoptar legislação sobre biocombustíveis


A Comissão Europeia instou hoje Portugal a transpor para a legislação nacional as normas comunitárias sobre biocombustíveis, no que constitui o segundo passo do processo de infracção e o último antes de Bruxelas levar o caso a tribunal.

A Comissão observa que mesmo depois da notificação de Fevereiro passado, Portugal continua sem informar a Comissão sobre as medidas entretanto tomadas para transpor para a lei nacional a directiva comunitária (lei europeia) que visa promover o uso de biocombustíveis e outros combustíveis renováveis nos transportes.

Além de Portugal, outros oito Estados-membros ainda não cumpriram as suas obrigações nesta matéria, e esta é a derradeira oportunidade de o fazerem antes de a Comissão avançar com a apresentação de queixas formais perante o Tribunal de Justiça Europeu.

A directiva, de Maio de 2003, e que estabelece como objectivo que os biocombustíveis ocupem 2 por cento do mercado de energia no final de 2005 (e 5,75 em 2010), previa que os Estados-membros cumprissem três obrigações durante o ano de 2004.

Os Estados-membros, recorda a Comissão, deveriam transpor a directiva para a legislação nacional, entregar à Comissão um relatório com a previsão de um objectivo indicativo sobre a parte de mercado gasolina e gasóleo que os biocombustíveis ocupariam até final de 2005, e fornecer explicações sobre eventuais fossos entre esse objectivo e o valor de referência de 2 por cento.

Vários Estados-membros não informaram a Comissão sobre o processo de transposição das normas comunitárias para a legislação nacional e outros continuam sem indicar objectivos ou apontam objectivos aquém do desejado e argumentos considerados insuficientes pela Comissão.

A meta indicativa de Portugal vai ao encontro do objectivo da directiva (2 por cento em 2005), foi traçada ainda em 2004, no quadro da aprovação do Plano Nacional para as Alterações Climáticas, e indicada na resolução do Conselho de Ministros de 31 de Julho desse ano.

Contudo, e à semelhança de vários outros Estados-membros - Estónia, Finlândia, Grécia, Holanda, Itália, Luxemburgo e Eslovénia - Portugal tarda em transpor para a legislação nacional uma directiva que a Comissão considera vital em vários domínios.

Para o comissário Andris Piebalgs, responsável pela pasta da Energia, esta situação de incumprimento é "particularmente lamentável" atendendo a que os biocombustíveis podem desempenhar um papel importante na política europeia em matéria de transportes e de energia, com repercurssões na agricultura e ambiente.

"Trata-se, de facto, de uma das raras opções de que dispomos para substituirmos os combustíveis à base de petróleo utilizados no sector dos transportes", afirmou, acrescentando que o recurso a biocombustíveis não só permite lutar contra o fenómeno das alterações climáticas como diversificar as fontes de energia na Europa, reduzir a dependência relativamente às importações de petróleo e também abrir mercados à agricultura europeia.

Os biocombustíveis compreendem o biodiesel, biogás e bioetanol.


Fonte: LUSA



 


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quinta-feira, maio 05, 2005


[11:44]

Projeto analisou o passado e o presente do pau-brasil
05/05/2005 (*)


A história do pau-brasil (Caesalpina echinata), árvore símbolo da nação brasileira, acaba de ser recontada. Um projeto multidisciplinar, que durou quatro anos, investigou todos os aspectos da planta, desde sua importância histórica até formas para que ela seja preservada no meio ambiente. Documentos consultados pela primeira vez em Portugal revelam que a importância da árvore é muito maior do que se imaginava.

“Os estudos feitos em Portugal possibilitaram calcular o quanto de pau-brasil havia sido explorado, pelo menos de forma oficial, pelos portugueses”, disse Yuri Tavares Rocha, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP. Os estudo contou com financiamento da FAPESP.

Entre os séculos 16 e 18 foram cortadas oficialmente no Brasil 466.518 árvores, com 15 metros de comprimento, de pau-brasil. Essas estimativas estão baseadas em cerca de 800 documentos estudados por Yuri. “Dentre os europeus envolvidos com o comércio do pau-brasil, os holandeses foram os que mais se destacaram nessa atividade, tanto pela extração de corantes como pela utilização deles nas fábricas holandesas”, explica.

Pelos resultados do trabalho está claro, segundo o pesquisador, que o pau-brasil não foi importante apenas no início da colonização. “Mesmo depois da cana-de-açúcar, ele continuou sendo uma fonte de corante vermelho fundamental para a indústria têxtil”, conta.

A conseqüência da exploração do pau-brasil não teve apenas desdobramentos econômicos. “A transformação das feitorias em vilas e povoados ocorreu apenas por causa do ciclo do pau-brasil, ao contrário do que afirmam alguns autores”, diz Yuri.

O estudo reforça também a tese de que a ocorrência dessa planta foi determinante na tentativa de se formar a França Antártica (colonização francesa no Rio de Janeiro) e na descoberta de condições ideais para o cultivo da cana-de-açúcar.

O enfoque sobre o pau-brasil não recaiu apenas sobre o seu passado histórico. O projeto, que contou com a participação de várias outras instituições de pesquisa, também tentou desenvolver formas para que a planta símbolo do país possa continuar a ser vista pelas futuras gerações.

“Infelizmente, existem duas grandes pressões contra a manutenção da espécie in situ”, afirma Yuri. O pesquisador refere-se à fragmentação da Mata Atlântica e ao corte e à exploração ilegal da madeira, que ainda continua. A árvore é muito procurada hoje para a montagem de instrumentos de corda, como os violinos.

“Em relação ao primeiro caso, uma das saídas é estudar os fragmentos e transformá-los em unidades de conservação.” o caso da Usina Coruripe, no sul de Alagoas, e da Destilaria Baía Formosa, no sul do Rio Grande do Norte, poderiam ser feitas reservas particulares de patrimônio natural, explica Yuri.

“Essas duas áreas são exemplos que devem ser seguidos, pois mantêm matas com populações importantes de pau-brasil, que não estão sendo conservadas de forma eficiente”, diz. Sobre o segundo problema, a única saída é aplicar o conceito do manejo sustentável.

Em termos de conservação ex situ (fora do local de origem), o projeto pau-brasil obteve outro resultado importante. Pesquisas realizadas pela equipe de Cláudio José Barbedo, pesquisador do Instituto de Botânica da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e vice-coordenador do projeto, mostraram que as sementes da planta podem ser conservadas por até 18 meses. Esse período é seis vezes maior do que se tinha conseguido até hoje.


(*) Por Eduardo Geraque

Para ler AQUI



 


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domingo, abril 24, 2005


[10:36]

AVENTURA NO CORAÇÃO DA AMAZÓNIA
Porto Velho - Manaus (Brasil) (*)


Três semanas de viagem pela Amazónia profunda, motivados pela curiosidade de conhecer de perto a realidade de uma das mais fascinantes regiões do planeta, 500 anos depois da chegada dos primeiros europeus ao Brasil.

Primeiro objectivo: Alcançar o Forte Príncipe da Beira, a maior fortaleza construída pelos portugueses em Terras de Vera Cruz (1776) e, logo, nos confins da Amazónia, nas margens do rio Guaporé, assegurando uma linha de fronteira com a Bolívia que se manteve até aos dias de hoje. A divisória entre os dois países desce pelo "meio" do rio Guaporé ao longo de 962 quilómetros (mais do que o comprimento do "rectângulo" português), até à foz do rio Mamoré. Não existem quaisquer marcos e as ilhas existentes não foram ainda adjudicadas ao Brasil ou à Bolívia.

Esta zona da Amazónia é praticamente desabitada - apenas existem, do lado brasileiro, as localidades de Pimenteiras e Costa Marques -, o que a vocaciona para um ambicioso programa de protecção à reprodução de quelónios (tartaruga da Amazónia e tracajá) implementado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). As praias fluviais onde estas tartarugas depositam os seus ovos (cerca de 100), em ninhos escavados a cerca de um metro de profundidade, estão interditas ao homem. Todavia, poucos são os filhotes que escapam aos seus predadores naturais: piranhas, traíras, pirararas, jacarés e gaviões. No pequeno museu da delegação do IBAMA, em Costa Marques, repousa a pele de um jacaré-açu capturado no rio Guaporé, com 4,5 metros de comprimento e 291 kgs! Foram necessárias cinco balas, calibre 38, para abatê-lo.

Para chegar a Costa Marques (a escassos 25 quilómetros do Forte Príncipe da Beira), a expedição portuguesa recorreu a um táxi-aéreo, um bimotor Embraer Piper Seneca II, a partir da cidade de Porto Velho, capital do Estado da Rondónia. Este voo de uma hora e meia permitiu-nos avaliar a extensão de significativas áreas de deflorestação existentes na Rondónia, um dos estados brasileiros mais afectados por este flagelo.

Há muito que os seringueiros trocaram a exploração da borracha pelo abate de árvores, dispondo de serrações capazes de transformar em tábuas um tronco de bacuri em poucos minutos. A prática seguida nalgumas áreas extractivistas pressupõe a replantio das espécies, mas o crescimento dos novos rebentos dificilmente acompanha o ritmo de abate de árvores com 30 ou 40 anos. Mais de uma dezena de madeiras tropicais são regularmente exploradas na Amazónia: mogno (a mais cara), cedro, cacheta (laminados para o Japão), tauari, cerejeira, ipé, cinzeiro (leve, própria para casas), bacuri, garapeira, itaúba e cumarú de ferro (tão dura que até chega a partir as ferramentas de corte).

Bom tempo em rota, a 6000 pés de altitude (cerca de dois quilómetros) ao longo do trajecto, mas quase a rasar as copas das árvores mais altas, na serra dos Pacaás Novos. Antes de aterrar, o piloto brindou-nos com o sobrevoo da fortaleza, o que nos possibilitou a tomada de excelentes imagens do monumento.

Costa Marques é um pequeno município fronteiriço com cerca de oito mil habitantes recenceados, mas provavelmente com 11 ou 12 mil, actualmente, dado o crescimento evidenciado. Agricultura e criação de gado assumem-se como as principais actividades "oficiais", já que Costa Marques surge sempre referenciada como uma das principais portas de entrada da cocaína boliviana. Primeiro, de barco e depois por estrada de terra batida (BR429) apelidada de "Transcoca". A vila organiza-se ao longo de uma avenida larga até ao rio, com três hotéis, dois ou três restaurantes - entre os quais, um rodízio que se revelou um verdadeiro achado, a Churrascaria do Gaúcho - e diversos estabelecimentos comerciais. Na frente ribeirinha, erguem-se casas de madeira sobre palafitas e mais alguns restaurantes cuja especialidade é, naturalmente, peixe (surubim e pintado fritos e grelhados).

10 dias de barco no rio Madeira

Regressámos a Porto Velho para embarcar no mesmo dia no Cândido VIII, um navio típico de toda a bacia do Amazonas, com três "decks", que seria a verdadeira casa do grupo durante 10 dias. Um típico dia a bordo começa com os primeiros sinais da alvorada (6h) e as movimentações da tripulação ou a agitação no cais de acostagem. Poucos são os que conseguem dormir ou permanecer deitados nas tradicionais redes suspensas no segundo convés depois dessa hora. A partir das 7h, é servido o café da manhã, composto de leite, café e biscoitos, isto é, singelas fatias de pão duro levemente tostado, para barrar com margarina ou doce de goiaba. É tempo de partir para mais uma excursão ou passeio de "voadeira" para visitar as comunidades ribeirinhas.

A cada paragem, pesca-se. Jaraquis, douradas, pacús e piramutabas foram as mais frequentes capturas, mas também os terríveis candirús e as vorazes piranhas, que representam um risco muito sério para qualquer homem ou animal caído à água ferido. Atacam às centenas e devoram uma presa em poucos minutos!

O almoço é, geralmente, servido ao meio-dia e o jantar, entre as 19 e as 20h, compostos por peixe, frango ou carne guisada com arroz branco, feijão encarnado, esparguete de tomate e a omnipresente farinha de mandioca com que os brasileiros povilham todos os alimentos. A tarde pode ser ocupada no exterior ou simplesmente fluir por entre uma sesta na rede, a leitura de um livro ou a observação das margens do rio. Os banhos são tomados ao fim da tarde, nos chuveiros instalados nos WC e abastecidos com água do próprio rio.

Às 22h, já toda a tripulação está deitada nas suas redes do convés, à excepção do homem do leme, o "prático" e de um ajudante.Os viajantes, esses, saboreiam uma última bebida e um charuto no "deck" superior, admirando o céu estrelado. Recolhem aos seus casulos de rede um pouco mais tarde, depois de porem a sua escrita e leituras em dia.

O suave deslizar do barco cortando as águas convida ao repouso e à contemplação.

A paisagem desfila lentamente perante o olhar. Dispersas nas margens surgem, aqui e além, as casas de madeira dos habitantes do rio. O ronronar do motor embala os passageiros num sono profundo desperto, apenas, com a chegada a um cais. Os gritos das crianças a pescar; o canto madrugador dos galos em terra; e os assobios e trejeitos dos "marítimos" descarregando caixa de frutas e legumes ou embarcando grossas barras de gelo.

O rio Madeira é navegável todo o ano mas, nesta época (Setembro), a navegação exige cuidados redobrados por parte dos pilotos. Bancos de areia e pedrais, são as maiores ameaças e, não raro, o barco navega alternadamente a escassos metros da margem ou no centro do rio, ziguezagueando à procura da melhor passagem. À noite, um projector de grande intensidade perscuta as águas regularmente, de modo a detectar com antecedência qualquer osbtáculo ou objecto flutuante que possa pôr em perigo a derrota da embarcação ou evitar uma colisão com um barco mais pequeno desporvido de luzes de sinalização.

Ano após ano, as águas da enchente "comem" uma fatia da margem, que se esboroa em lama, arrastada pela força das correntes. A largura do rio Madeira vai, assim, aumentando progressivamente, situando-se em média nos dois quilómetros entre uma margem e outra. Por outro lado, a força das águas dos igarapés e riachos rasga a terra a caminho do grande rio, abrindo fendas na terra húmida.

A cachoeira-jacuzzi de Santa Catarina

Primeira escala em Santa Catarina, uma comunidade fundada há 70 anos por uma família portuguesa e que conta hoje com mais de uma centena de habitantes, escola, igreja e luz eléctrica 24h por dia, com apoios do Governo Federal, ao abrigo do program "Luz no Campo". A comunidade explora dois mil hectares, mas possui uma reserva de mais 20 mil, dedicados à plantação de mandioca. Um dos projectos consiste em ensacar farinha de mandioca para colocar no mercado, o outro, reside no ecoturismo, tirano partido da riqueza piscícola do lago Mururé e dos igarapés e cachoeiras vizinhos. «Aqui no rio, a primeira coisa que se aprende é a pescar», afirma Sidney Queirós, descendente do fundador e actual líder da comunidade. Nesse dia, os piauis e os jaraquis fizeram as honras de uma bela grelha e de uma mesa improvisada numa rocha, junto a uma pequena cachoeira que é um verdadeiro jacuzzi natural.

Da simples piroga movida à pagaia, à balsa gigante carregada de camiões TIR e passando por uma enorme variedade de "recreios" de passageiros e carga, a descida do rio Madeira - principal "autoestrada" da Amazónia - possibilita ao viajante um quadro único sobre a vida e o desenvolvimento da Amazónia. Os locais comentam que o desinteresse dos governos federal e estadual do Amazonas, relativamente à conservação da Transamazónica, tem origem nos "lobbies" das companhias que operam as balsas. A asfaltagem da estrada resultaria numa transferência dos camiões TIR, principal fonte de receita do transporte fluvial.

Antiga capital da borracha no princípio do século, Calama reunia toda a produção vinda de Porto Velho e das comunidades de seringueiros dos rios Preto e Machado (o que mais produziu na região amazónica). Hoje, é morada de três centenas de famílias, reunindo 1555 pessoas, maioritariamente católicas e fiéis ouvintes do padre Francisco Viana, de 70 anos (44 dos quais, como padre), na igreja e… na "rádio" local: «missão da Igreja de S. João Baptista, Distrito de Calama, serviço de altifalantes, em mais um programa da série "Encontros com Cristo"...», pode ouvir-se, diariamente, às 6h, 12h e 18h.

Mas a coroa de glória do padre Viana é o barco-hospital (com consultório, dentista, farmácia e laboratório), construído com apoios do Governo Estadual de Rondónia, Governo Municipal, da Alemanha e da Universidade de São Francisco (S. Paulo) para servir quatro dezenas de comunidades ribeirinhas dos rios Madeira, Machado, Ji-Paraná e Preto. «Evangelização integral: cuidamos do corpo e da alma", é o seu lema. "Nesta área, temos apenas dez pequenos postos de saúde, mal equipados e sem médico. Apenas as sedes de dois distritos, Calama e São Carlos do Jamari recebem, quinzenalmente, a visita de uma equipa médica de Porto Velho - explica o padre Francisco Viana - com o barco, fazemos um atendimento mensal, durante dez dias, com nove agentes de saúde, mas o projecto necessita de 150 mil reais por anos (cerca de 19 mil contos) para ser viável».

Em busca dos Mura e dos Parintintins

Outro clérigo, o padre Moisés, de Humaitá, acabaria por revelar-se essencial para o sucesso do nosso primeiro contacto com uma comunidade índigena do rio Madeira, no caso, os Parintintins da aldeia de Traíra. A chegada dos visitantes atrai logo os mais novos, os homens (liderados pelo vice-cacique) e só mais tarde, as mulheres. A conversa tem lugar nos bancos da escola, uma maloca de madeira recoberta de folhas de palmeira, mas sem paredes, porque o calor e a humidade assim o exigem. É, também, a sala da televisão (colocada ao lado do quadro de giz), com sinal recebido por antena parabólica e energia fornecida por um pequeno gerador que alimenta toda a aldeia, durante algumas horas, ao fim do dia. A enfermaria possui uma pequena farmácia e está dotada de um microscópio, onde o agente de saúde índigena pode fazer análises ao sangue para detectar eventuais casos de malária.

Ao todo, são 74 habitantes, distribuídos por uma dezena de casas de madeira (a maioria sem paredes), erguidas sobre palafitas e recobertas com folhas de palmeira. Todos dormem em redes suspensas no ar, mas não prescindem de alguns benefícios da modernidade, como fogões a gás, panelas de alumínio, copos de vidro e depósitos de água em brasilit (a versão brasileira do lusalit). No vestuário, há muito que adoptaram a T-shirt e o calção, com preferência por alguns clubes de futebol ou de iniciativas em prol dos índios.

Outrora antrópofagos e inimigos fidagais dos seus vizinhos Mura, os Parintintins são hoje um povo pacífico, hospitaleiro e sedentário. Cultivam mandioca, plantam bananeiras, criam galinhas e já caçam com espingarda, mas ainda pescam com arco e flecha. A grande maioria só fala português, mas os mais velhos estão empenhados na recuperação da sua língua nativa (que quase se perdeu por completo), com o apoio de estudantes da Universidade de S. Paulo. «Na prática, são índios que vivem aculturados e ao modo do homem branco, embora conservando parte das suas tradições», explica o padre Moisés.

Em Manicoré, dirigimo-nos à delegação da COIAB - Coordenação das Organizações Ìndigenas da Amazónia Brasileira, que desenvolve um trabalho meritório no apoio às comunidades de índios, ganhando progressivamente alguma autonomia face ao organismo tutelar estatal da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Apesar das objecções levantadas, lográmos visitar duas comunidades de caboclos - Aparecida e Ponta Natal - integradas numa área demarcada índigena, nas margens do rio Mataurá. «A FUNAI queria jogar nós daqui - denuncia uma das habitantes de Aparecida - mas foi Deus que colocou nós aqui. Coração e pensamento, só Deus que pisa. Aqui não tem índio». Já em Ponta Natal, o problema reside no facto da escola ter ficado na área demarcada e existirem casos de discriminação dos que não aceitaram ser índigenas. Mas encaram como positiva a demarcação, pela protecção contra os intrusos e depravadores, nomeadamente, pescadores.

Em Autazes, a nossa visita recai sobre o bairro Mutirão onde os índigenas Mura vivem em condições de insalubridade muito próximas de uma favela: esgotos a céu aberto, um único ponto de abastecimento de água e que é, simultaneamente, lavadouro de roupas e pessoas. A área está sob a jurisdição do Conselho Índigena Mura (CIM), que procura assegurar cuidados de saúde, educação, assistência jurídica, meios de auto-sustentação e noções de protecção do meio ambiente à população de 36 aldeias. No capítulo cultural, o grande objectivo é o da recuperação da língua Mura, perdida já no tempo dos avôs da actual geração (até ao presente, já foram repertoriadas 120 palavras). «O contacto com os brancos foi desaculturando os índios. Um sonho que a gente tem, é o de recuperar a língua», frisa Gilberto, um dos coordenadores do CIM.

O rio Madeira desagua no rio Amazonas (de que é o maior afluente) a cerca de meio-dia de viagem de Manaus. Aqui, o Amazonas já tem uma largura de cinco quilómetros. Às portas de Manaus, o barco cruza o chamado "encontro das águas", o ponto em que as águas barrentas do rio Solimões se juntam às águas escuras do rio Negro, formando o rio Amazonas. As águas fluem juntas ao longo de mais de 40 quilómetros, até se misturarem por completo.

Manaus está cada vez mais longe dos seus tempos de glória e esplendor do apogeu do Ciclo da Borracha - foi a primeira cidade brasileira a ser dotada de luz eléctrica e de uma rede de eléctricos para transporte público. Apenas restam alguns edifícios do século passado, com destaque para o famoso Teatro Amazonas (1896) e para o Mercado Municipal, inspirado no antigo mercado de Les Halles, em Paris (hoje, desaparecido). De resto, é uma selva urbana construída sem o menor planeamento urbanístico ou, sequer, o mínimo bom gosto. Gente aos magotes e os primeiros turistas que avistámos em muitos dias. A grande maioria fica hospedada nos hotéis da selva dos arredores de Manaus, onde lhe são proporcionados alguns passeios para observação de animais e… pouco mais. Do contacto com a população local, apenas os que trabalham nos hotéis e uma ideia muito romântica de índios nus e no seu estado mais primitivo que há muito deixou de existir na Amazónia, mas isso será o tema de um próximo capítulo...

(*) Por Alexandre Coutinho. AQUI


 


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[10:03]

Vale a pena ler o artigo de José Ribamar Bessa Freire, publicado na edição de 17 de Abril do Diário do Amazonas:
«Os Indios e o Choro do Lula».

Em causa, a homologação do decreto da Terra Indigena Raposa / Serra do Sol, para as tribos da Roraima. A promessa de campanha largamente repetida durante a campanha eleitoral passa agora a lei. 835 dias após a eleição do Governo.


 


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sexta-feira, abril 22, 2005


[13:26]

INCÊNDIOS - Governo antecipa época de fogos.
( 12:24 / 22 de Abril 05 )

O Governo vai antecipar a época de fogos devido à situação de seca que atravessa o país. Segundo o secretário de Estado da Administração Interna, esta é apenas uma das várias medidas em que o Executivo se encontra a trabalhar para antecipar um ano que se avizinha difícil nesta matéria.


O Governo decidiu antecipar para 15 de Maio o início da época de fogos por causa da situação de seca que o país atravessa. O anúncio foi feito no Fórum TSF, pelo secretário de Estado da Administração Interna.

Segundo Ascendo Simões, a antecipação da época de fogos vai ser acompanhada pela «instalação de 60 a 240 postos de vigia por parte do ministério da Agricultura e a consequente mobilização dos meios necessários ao combate por parte do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil».

Para além da antecipação da época de fogos, o Executivo está também a trabalhar com outros organismos, no sentido de preparar um ano que se avizinha difícil a nível de incêndios.

«Nessa perspectiva importa que tenhamos todos os serviços da administração central - Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, Direcção-geral dos Recursos Florestais, o Instituto de Conservação da Natureza, o Instituto de Meteorologia e Geofísica - completamente integrados num sistema de comunicação e de apoio à decisão que permita fazer, em primeiro lugar, uma prevenção do incêndio florestal», explicou o governante.

O secretário de Estado anunciou, também, uma alteração ao sistema de comando a nível dos Bombeiros «que permita regressar a um sistema de comando integrado (...) que permita responsabilizar, integrar e coordenar todos os meios de intervenção no terreno».

Concursos de aluguer de meios aéreos mantêm prazos anteriores

Apesar da antecipação da época de prevenção aos fogos florestais, os concursos para aluguer de meios aéreos de combate aos incêndios não vão ser antecipados.

Ascenso Simões diz lamentar esta situação, mas é preciso respeitar as decisões tomadas pelo anterior Governo e os processos que já estão a decorrer.

O secretário da Administração Interna anunciou que ainda hoje vai ser tomada uma decisão sobre os meios aéreos que serão necessários para fazer frente aos incêndios e garantiu que o Executivo vai ter em conta as indicações dos responsáveis.
Via TSF, onde também se encontram on line declarações interessantes de algumas entidades, relacionadas com a matéria, que vale a pena escutar. AQUI




 


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quinta-feira, abril 21, 2005


[20:13]

APROVADO REGULAMENTO PARA ALIMENTOS TRANSGÉNICOS
2005-04-21

No ponto III do Comunicado do Conselho de Ministros de 21 de Abril de 2005 pode ler-se o seguinte:


«III. O Conselho de Ministros aprovou, ainda, na generalidade, os seguintes diplomas no âmbito do sector Agrícola:

1. Decreto-Lei que regula o cultivo de variedades geneticamente modificadas, visando assegurar a sua coexistência com culturas convencionais e com o modo de produção biológico.

Este diploma, no respeito pelo princípio da precaução, fixa regras para assegurar a boa coexistência de variedades geneticamente modificadas com culturas convencionais e com o modo de produção biológico.

A regulação do cultivo de variedades geneticamente modificadas no País torna-se premente, tendo em conta que a Comissão Europeia inscreveu no Catálogo Comum de Variedades de Espécies Agrícolas, 17 variedades de milho geneticamente modificadas, o que tem como consequência que, para a próxima campanha agrícola, estão disponíveis no mercado comunitário sementes daquelas variedades, as quais poderão ser eleitas para cultivo, por quaisquer agricultores, no território nacional.

A Comissão Europeia teve assim em conta que os progressos da ciência e da biotecnologia, verificados nas últimas décadas, tiveram como consequência o aparecimento de novos produtos resultantes da modificação genética de seres vivos, incluindo, em particular, as variedades vegetais geneticamente modificadas.

De entre as normas adoptadas, destaca-se a distância mínima exigida entre culturas, que se estabelece em 200 metros para os sistemas de produção convencional e 300 metros para os sistemas de produção biológica, sem prejuízo da adopção, em alternativa, de linhas de bordadura destinadas a conferir as necessárias condições de segurança.

2. Decreto-Lei que estabelece as regras de execução, na ordem jurídica nacional, do Regulamento (CE) n.º 1829/2003, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Setembro de 2003, relativo a géneros alimentícios e alimentos geneticamente modificados para animais.

O presente diploma estabelece e enquadra na ordem jurídica nacional as normas comunitárias relativas a géneros alimentícios e alimentos geneticamente modificados para animais, inserindo-se nas medidas de protecção da segurança alimentar e defesa dos consumidores.

Nele se estabelecem os procedimentos comunitários para a autorização e supervisão dos géneros alimentícios e alimentos geneticamente modificados para animais, fixando igualmente as disposições sobre a respectiva rotulagem, determinando que os Estados-membros tomem as medidas necessárias para garantir a sua aplicação.

Assim, este diploma atribui poderes à Direcção-Geral de Fiscalização e Controlo da Qualidade Alimentar e à Direcção-Geral de Veterinária para, de acordo, com as suas atribuições, fiscalizarem o cumprimento do regulamento comunitário e prevê os factos ilícitos e censuráveis que podem constituir contra-ordenações, sem prejuízo das competências de avaliação e comunicação dos riscos legalmente atribuídas à entidade nacional competente no domínio da segurança alimentar.»

O documento pode ser lido na integra AQUI.





 


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terça-feira, abril 12, 2005


[04:51]

AINDA DEMORA
10.04.2005

Para finalmente revelar ao Brasil a extensão do desmatamento ocorrido na floresta amazônica entre agosto de 2003 e agosto de 2004, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão responsável pelo número oficial, precisa ainda processar cerca de 50 imagens de satélite da região. O trabalho está atrasado em relação ao cronograma que foi seguido em anos anteriores. A prática era divulgar o número em março. Já estamos em abril e ainda há muito a fazer. Nos institutos de pesquisa e Ongs que atuam na Amazônia, a expectativa é que a taxa sai mesmo é no início de maio. Com muito esforço, talvez finzinho desse mes. A demora, até agora não explicada, terá ao menos uma compensação.

O governo vai abrir os dados e imagens que foram usados para compor a taxa ao exame de pesquisadores de instituições públicas e privadas. A única exigência é que mantenham sigilo sobre as informações até o anúncio oficial. Eles vão recebê-las com 4 dias de antecedência e poderão fazer com elas o que bem entenderem – desde auditar os números do Inpe até processar as mesmas imagens usadas pelo instituto em menor escala, para enxergar a floresta mais de perto. Tamanha abertura por parte do Ministério do Meio Ambiente é uma novidade do mandato de Lula. Até agora, o número era divulgado e pronto. Poucos tinham acesso aos dados. Nunca com antecedência. Em parte, isso explica a visível ansiedade com que cientistas e pesquisadores da região aguardam a taxa final. O resto da explicação fica por conta do número propriamente dito.

Há uma certa resignação em relação ao fato que ele continuará muito alto. Em desmatamento na Amazônia, Lula está tendo desempenho de Fernando Henrique, que fez o Brasil entrar no século XXI dando meia-volta até o fim dos anos 80, deixando em média, nos últimos 3 anos, desaparecer um Sergipe inteiro de floresta. Em números, são cerca de 23 mil quilômetros quadrados. O drama do atual governo é que ele corre bem mais do que o risco de repetir o antecessor. A primeira taxa de desmatamento de Lula pode muito bem ser a maior da história.

Em março, durante audiência na Câmara dos Deputados, João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), disse que espera um número em torno de 24 mil quilômetros quadrados. Revelou também que existe uma margem de erro em torno de 15%, para cima ou para baixo, na taxa final. Como desvio estatístico, é imenso. Tomando o número de Capobianco por base, o desflorestamento poderá ter atingido entre 20 mil e 400 e 27 mil e 600 quilômetros quadrados de mato. A diferença é quase um terço de Sergipe.

Pena que são poucos os que têm fé, mesmo com tamanha extensão para erro, numa taxa próxima do número mais baixo. A maioria dos pesquisadores acredita que ela ficará no mínimo no patamar apontado por Capobianco. Muitos acham que há um cheiro de recorde histórico no ar e que a taxa vai encostar nos 30 mil quilômetros quadrados. A discussão em torno de um número que ainda não saiu não é mera especulação, mas reflexo de um fenômeno que junta desenvolvimento tecnológico com o aumento de sistemas e satélites que monitoram a superfície da Amazônia. Há muito a região não era tão vigiada dos céus. Sevindo especificamente ao Brasil, existem 3 satélites, ou sensores remotos como preferem os entendidos.

O índice oficial do INPE baseia-se em imagens capturadas pelo satélite Landsat para o Prodes, seu programa para acompanhar o desflorestamento na Amazônia. O Instituto analisa as imagens em escala 1/ 250 mil. Nessa proporção, é impossível enxergar, por exemplo, pequenos focos de desmatamento com menos de 6,25 hectares. Existe tecnologia para processar estas mesmas imagens com escala de 1/ 50 mil, capaz de revelar a floresta com maior resolução e riqueza de detalhes. Dá para vê-la 5 vezes mais de perto, detectando qualquer tipo de devastação a partir de 1, 25 hectares. Mas essa tecnologia não é empregada pelo Inpe. A razão tem a ver com metodologia.

É nessa proporção que o Inpe sempre processou a taxa de desmatamento na Amazônia. Mudá-la agora significaria perder a consistência histórica da coleta de dados e impedir, daqui para a frente, comparações com o que ocorreu em anos anteriores. Mesmo que quisesse, a mudança não aconteceria de uma hora para outra. Seria preciso antes absorver tecnologia e capacidade de análise.

Além do Landsat, dois outros satélites fornecem imagens usadas para identificar desflorestamentos na Amazônia. Um é o Cybers, projeto conjunto entre Brasil e China. O outro chama-se Modes e serve de pilar ao programa Deter, do Ministério do Meio Ambiente e Ibama, dedicado a achar desmatamentos em tempo real na região. Por conta dessa característica, de geração de imagens no menor espaço de tempo possível, a resolução da produção do Modes é baixa, coisa que o impede de detectar qualquer desmatamento com menos de 10 hectares.

Detalhe importante a ser levado em consideração quando a taxa de desmatamento finalmente for revelada é que apesar de nominalmente estar referenciada pelo período que vai de agosto de 2003 até agosto de 2004, ela no fundo vai registrar principalmente as derrubadas do primeiro ano. Na Amazônia, o desmatamento ocorre no período de seca, que vai de julho/agosto até outubro e é chamado de verão na região. Nos meses de chuva, é impraticável entrar no mato para cortar árvores. O número que será apresentado em maio, portanto, não incluirá os desmatamentos que aconteceram em 2004. Por essa razão, tem gente achando que o governo Lula corre o risco de amargar em 2006 uma taxa ainda pior do que a que será divulgada em 2005.


porManoel Francisco Brito. Para ler AQUI



 


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quarta-feira, março 09, 2005


[16:25]

Mulheres Realizam Marcha pela Paz


 


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[16:02]

No próximo dia 12/3, o Studio 5 traz a Manaus um dos fenômenos da MPB, a cantora Maria Rita.
Maria Rita.


 


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[15:59]

Denúncia diminui violência contra mulher, diz delegada


 


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segunda-feira, março 07, 2005


[16:34]

Portal Amazónia


 


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[15:36]

Le Monde.fr : Une nouvelle génèration de femmes s'est lancée en politique


 


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domingo, março 06, 2005


[06:23]

EXPEDIÇÃO ANDES-AMAZONAS (*)
[23.02.2005 - 2:02 PM]


Uma expedição científica percorrerá o Rio Amazonas, durante quatro meses e meio, da nascente, nos Andes, à foz, no Atlântico, para comprovar que o Amazonas é provavelmente mais extenso, o que pode colocá-lo como o maior rio do mundo, tanto em volume de água quanto em extensão, à frente do Nilo. A expedição vai traçar, ainda, o perfil sedimentológico do rio, observando a quantidade de matéria sólida que é transportada pelo Amazonas até o oceano Atlântico.
A Expedição Científica Andes-Amazonas está sendo preparada pela Organização Sócio-Ambiental e Expedições Científicas (Ambi), com o apoio da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), dos Ministérios do Meio Ambiente, dos Transportes, e dos Institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), universidades federais do Amazonas e do Acre, além da Agência Nacional de Águas e do Ibama.

A previsão é que a equipe multidisciplinar de 52 pesquisadores do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Suriname, Bolívia, Guiana e Guiana Francesa parta em julho de 2005.

De acordo com o geólogo Paulo Roberto Martini, do Inpe, a utilização dos sistemas de Informação geográficas (SIG) e de georreferenciamento por satélite apontam uma nova medida para o Amazonas. Segundo ele, foi possível montar um mosaico de imagens sobre o rio, transformando-as em imagens cartográficas.

O trabalho agora é classificar a água do rio, reconhecendo os canais principais, já que o Amazonas é cheio de meandros e ilhas, disse Martini. O geólogo explicou, ainda, que os estudos estão acompanhando o Amazonas, considerando seu principal formador o rio Ucaiali, mais extenso que o rio Maranhão, usado na medição tradicional por ter maior volume de água.

Além de apoiar o projeto, o Ministério do Meio Ambiente participará da expedição com técnicos da Secretaria de Recursos Hídricos, Agência Nacional de Águas e Ibama. Os pesquisadores não só percorrerão o rio como passarão pelas costas atlântica e pacífica, montanhas andinas, florestas e bacias hidrográficas do Orinoco (Peru) e da Amazônia, analisando aspectos sociais e antropológicos.

O foco dos estudos, no entanto, são as águas da região. De acordo com o hidrólogo da Secretaria de Recursos Hídricos do MMA, Jonair Mongin, os sedimentos que estão sendo transportados pelo rio Amazonas dos Andes para o oceano Atlântico são depositados na Costa Atlântica do norte da América do Sul e estão reconfigurando o continente.

Os sedimentos andinos, segundo Mongin, são conseqüências de erosão natural do degelo e das chuvas, mas as mudanças climáticas e a ação do homem estão interferindo nesse processo, causando desertificação e colocando em risco as nascentes dos rios formadores do Amazonas e da Bacia Amazônica.


(*) por Altino Machado. AQUI
Fonte: Ministério do Ambiente do Brasil



 


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[06:21]

HONRE A PALAVRA, PRESIDENTE! (*)
[15.02.2005]


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Foto retirada DAQUI.

Luiz Inácio falou: "Lá no cantinho do céu, Chico pode ter certeza de uma coisa: nós vamos prosseguir sua luta ainda com mais força, nos campos e nas cidades, para libertar o país de uma vez por todas desses jagunços e seus mandantes, escondidos na selva e nos gabinetes."
Como se não bastasse o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Mae Stang, em Anapu, no sábado, mais dois assassinatos foram registrados no Estado do Pará.

Cláudio Matogrosso, liderança da gleba Manduacari, também foi assassinado em Anapu, no mesmo distrito onde Dorothy foi vitimada. E o sindicalista Daniel Soares da Costa Filho foi assassinado no município de Parauapebas, sudeste do estado.
O presidente Lula, a quem cabe a palavra final sobre um plano de trabalho articulado de forças federais e estaduais para solucionar o conflito no Pará, encontra-se em viagem ao Suriname e promete antecipar a volta em nove horas.


Lula já foi advertido na segunda-feira, em Carta da Sociedade Civil, que "se o governo não for capaz de estabelecer sua autoridade na região agora, sem mais tardar, antecipando-se a novos assassinatos, correrá o risco de passar para a história como o campeão da violência rural, da grilagem de terras públicas e do desmatamento ilegal".


O assassinato de Dorothy Stang já não é o mais recente entre os cerca de 125 que vitimaram lideranças e apoiadores dos movimentos sociais rurais durante o governo de Lula, sendo que aproximadamente 40% desse total ocorreram somente no Pará.


Para resolver a escalada de violência e a impunidade reinante no país, sobretudo na Amazônia, bastaria Lula cumprir a promessa que fez em depoimento ao site Chico Mendes.


Ou será que temos que esquecer o que Luiz Inácio falou? Leia o depoimento:

“Chico talvez nem soubesse o que queria dizer ecologia e muito menos holocausto ecológico quando começou sua romaria pela floresta para organizar a peãozada dos seringueiros - primeiro, no sindicato dos trabalhadores rurais e, mais tarde, para criar o PT.


Nessas caminhadas pela mata, ele acabou juntando numa bandeira só a luta ecológica, a luta sindical e a luta partidária, porque sabia que elas são indissociáveis, uma alimentando a outra no mesmo ciclo da vida na floresta.


Quando estive pela última vez em Xapuri, no Acre, antes da tragédia da véspera do Natal, para ajudar na campanha do Chico a prefeito, em 1985, a barra já estava pesando. Os fazendeiros do centro-sul do pais que tinham invadido a região não escondiam de ninguém que ele estava marcado para morrer.


Logo o Chico que foi um dos mais apaixonados defensores da vida que já conheci, um homem tão puro e tão limpo como a água da chuva da mata que foi sua companheira inseparável.


Para honrar seu sacrifício e o de outros tantos companheiros, chegou a hora da nação dar um basta. O povo brasileiro não admite mais ser humilhado, massacrado, dizimado como a Amazônia.

Não, não basta pôr na cadeia quem apertou o gatilho só para dar uma satisfação à opinião pública mundial. Chegou a hora de romper com todo este sistema corrompido e arbitrário que municia as mãos assassinas e que nas últimas duas décadas promoveu um intenso processo de concentração da terra e da renda.

Lá no cantinho do céu, Chico pode ter certeza de uma coisa: nós vamos prosseguir sua luta ainda com mais força, nos campos e nas cidades, para libertar o país de uma vez por todas desses jagunços e seus mandantes, escondidos na selva e nos gabinetes”.


(*) por Altino Machado AQUI




 


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[06:05]

CONSUMO: A ÚLTIMA PALAVRA É DELAS
Com dinheiro no bolso e disposição para gastar, as mulheres são o mais forte segmento de consumo.
[05 Março 18h47min 2005]


Se você ainda não percebeu, preste atenção da próxima vez em que for ao shopping center. Observe quem está comprando e não se surpreenda se encontrar poucos homens. As mulheres são, de fato, a grande força do mercado consumidor. Com dinheiro no bolso e disposição para gastar, elas formam o grupo consumidor mais poderoso da atualidade. Elas gostam de olhar vitrines de roupas, de decorar a casa com flores, de servir um prato gostoso no jantar, mas o poder de compra vai a diversos segmentos. Além de serem as grandes consumidoras de cosméticos, jóias, roupas e eletrodomésticos, as mulheres também compram ou decidem a compra de computadores, de planos de previdência privada, seguro de vida e bens de consumo duráveis, como veículos.

Pesquisa de mercado realizada pelo instituto paulista Ipsos-Marplan com 35,8 milhões de consumidores de todo País constatou o poder de compra das mulheres. Entre as entrevistadas (19 milhões de mulheres de todas as idades e classes sociais), 84% faziam supermercado, 57% tinham telefone celular, 26% possuíam computador e 22% tinham cartão de crédito. A pesquisa indica também que 42% das pessoas que decidem a marca e o modelo do carro a ser adquirido são mulheres. Elas são ainda 53% dos proprietários de telefone celular, 40% dos que têm seguro de vida, 45% dos que têm plano de previdência privada e 50% dos donos de computador.

E como consumidoras, as mulheres têm comportamento singular. Elas são atenciosas, exigentes e procuram saber o máximo de informações sobre os produtos antes de comprá-los. E mesmo em tempos de crise, o preço não é o que importa na hora de decidir a compra. Para a maioria das consumidoras, o fundamental é a qualidade do produto. A bancária Regina Ester Vasconcelos compartilha dessa opinião. Na compra de uma máquina fotográfica digital, ela passou horas para escolher o melhor modelo. ''Gosto de saber de todos os detalhes, de saber o que estou comprando. Produtos práticos e eficientes são essenciais para mim. Por isso, não me importo em pagar mais por uma coisa melhor'', diz.

Regina também é exemplo de como as mulheres mandam no mercado consumidor. Na casa dela, embora as contas sejam todas divididas com o marido, ela é quem dá a palavra final. Ela decide todas as compras que são feitas na casa, com exceção, acredite, das frutas e verduras. ''Isso eu não sei escolher. Portanto, essa parte das compras fica para ele fazer'', diz. O marido de Regina, Francisco da Penha Vasconcelos, não se importa em se submeter às opiniões da mulher. ''Ela é muito sensata e controla os gastos da casa. Ela toma as decisões e eu digo: sim, senhora'', afirma.

Outra característica do comportamento da mulher como consumidora é a fidelidade às marcas. Se elas compram um produto que lhes agrade, não pensam duas vezes em repetir a compra. Mesmo quando o concorrente oferece um produto mais barato. A economista Noira Paccini é assim. Principalmente com produtos infantis para a filha de quatro anos. ''A gente quer sempre o melhor para os filhos''. Noira é divorciada e chefe da família. Trabalhadora esforçada, sabe o valor do dinheiro que ganha e por isso não gasta por impulso. Vaidosa, é adepta das compras de cosméticos e roupas, sem deixar de dedicar atenção especial à segurança financeira da família. Tem um plano de capitalização e se interessa por investimentos. Nãos dispensa um carro do ano nem computador moderno em casa.

''Há ainda hoje um certo preconceito em relação aos hábitos de compra feminino. Os homens, principalmente, nos acham consumistas de superfluos. Mas não é bem assim. Hoje não gastamos o dinheiro do marido, mas o nosso dinheiro e isso ensinou muita coisa à mulher'', diz a economista.

(*) por Bárbara Holanda, Jornal O POVO. AQUI



 


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[05:56]

Gays e bissexuais são mais expostos ao suicídio
[04 Março 08h47min 2005]

Os homens gays e bissexuais estão mais expostos a cometer uma tentativa de suicídio que os heterossexuais, segundo os resultados de um estudo epidemiológico realizado na França entre 1998 e 2003 publicados nesta sexta-feira.

As possibilidades de tentar terminar com sua vida são treze vezes maiores para os homossexuais e bissexuais que para o restante da população de sua mesma idade e condição social, indicam os dados preliminares divulgados pelo jornal Libération.

O relatório revela além disso que um de cada três indivíduos que comete uma tentativa de suicídio é homossexual ou bissexual.

Além disso, os gays e bissexuais com antecedentes de tentativas de suicídio mal se protegem nas relações sexuais com parceiros desconhecidos.

A tendência ao suicídio neste setor da população não está vinculada a fatores geográficos, sócio-profissionais ou ao fato de viverem sós ou em família, mas a fatores psicosociaies, como "a homofobia que provoca uma péssima estima pessoal", segundo Marc Shelly, médico de saúde pública do Hospital Fernad-Vidal de Paris e um dos autores.

Nos casos de suicídio, segunda causa de mortalidade na França depois dos acidentes de trânsito entre os 15 e os 34 anos, é necessário que psiquiatras atualizem seus procedimentos.

Efetuado sobre 933 homens de 16 a 39 anos, o relatório foi elaborado por pesquisadores independentes franceses sob a supervisão do Instituto Nacional da Saúde e da Investigação Médica (INSERM).

Os poderes públicos devem "acabar com sua apatia ante a amplitude do suicídio de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais", assegura no jornal o porta-voz de federação francesa de centros de gays e lésbicas (CGL), David Auerbach, para quem "o relatório confirma o que vivemos a cada dia".

"Se extrapolarmos os resultados, podemos considerar que a metade dos jovens suicidas são homossexuais ou questionam sua orientação sexual", acrescenta, ao destacar que "o suicídio não está vinculado à homossexualidade, mas à homofobia e é preciso fazer campanhas de prevenção".


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Postado por Ana M.C_Portugal

 

sexta-feira, março 04, 2005


[23:13]

A MELHOR DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS (*)


25.02.2005 | “Senhora do Destino”, que chega ao fim no dia 11 de março, é a novela das oito de maior audiência da Rede Globo nos últimos dez anos. Tanto sucesso faz do pernambucano Aguinaldo Silva, 60 anos, o mais importante autor de novelas da atualidade. Homossexual assumido, ex-preso político, ex-militante gay, ele se declara um morador do Rio de Janeiro acuado pelo medo da violência. Trancado em sua mansão de dois andares num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, de onde raramente sai, Aguinaldo surpreende quem conhece seu passado de esquerda. “Falta um Carlos Lacerda hoje em dia. Falta alguém que diga: ‘Não pode isso, isso e isso’. Por força das circunstâncias, fica até parecendo que virei conservador. Pago meus impostos e cumpro todas as leis. Por que é que vou compactuar com quem não faz o mesmo? Sou uma pessoa séria, não um conservador”, diz.

Na tarde da última segunda-feira, poucas horas depois de botar o ponto final em “Senhora do Destino”, Aguinaldo Silva recebeu Marcelo Camacho para a seguinte entrevista.


(*) por Marcelo Camacho.
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Postado por Ana M.C_Portugal

 

segunda-feira, fevereiro 28, 2005


[10:37]

No rastro da felicidade (*)

26.02.2005 | É sempre assim: quando vou a Santa Catarina custo na volta a escrever sobre outro lugar. Minha relação com aquela terra é um romance sem fim e, juro, os umbigos das mulheres de Blumenau nada – ou pouco – têm a ver com isso. A imundice hippie de Guarda do Embaú também não atrapalha em nada o bem-estar que me toma de assalto quando chego por lá. Se querem mesmo saber, nem os argentinos me incomodam. Entro em transe quando as estradas de São Paulo e Paraná ficam para trás. Sinto-me especialmente em casa quando subo o Caminho do Rio do Rastro, onde me hospedo em hotel-fazenda de mesmo nome no topo de uma região de cânions e penhascos que somem e reaparecem ao sabor do balé das nuvens sobre a relva. Me emociono. Sentado na varanda de um daqueles chalés, como dizia o poeta, “resta a imensa vontade de chorar diante da beleza”.

O hotel fica em Bom Jardim da Serra, irmã mais pobre de São Joaquim e Urubici, circuito brasileiro da neve. De junho a agosto, a região vive entupida de gente morrendo de frio à espera de um punhado que seja de flocos brancos caídos do céu sobre os gorrinhos de tricô. Em janeiro e fevereiro, quando subo a antiga trilha de tropeiros, o lugar está sempre às moscas. São elas, eu, as seriemas, as gralhas azuis, cobras, cachoeiras, o friozinho do verão, 8 graus de manhã cedinho – 15, à tarde. Bebe-se vinho e come-se arroz carreteiro no restaurante Nossa Senhora das Nuvens, à beira do grande lago das trutas. Meus filhos vestem casaco, descansam a pele do sol escaldante que nos abençoava na véspera rio acima de Guarda do Embaú. Em questão de horas, o verão virou ficção.

Dessa vez tive o prazer de conhecer no Rio do Rastro o engenheiro Ivan Cascaes, que a exemplo de Paulo Zulu em Embaú, cuida de todos os detalhes de seu hotel. Divide seu tempo entre Florianópolis e Bom Jardim da Serra, tem por aquelas matas carinho de ambientalista, mantém com os hóspedes proximidade e discrição na medida certa, nem sempre respeitada pelos hoteleiros. Faz churrasco com sanfoneiros (gaiteiros) no curral, conta lendas da região, o prazer de receber bem é o negócio dele.

Ivan Cascaes, assim como Paulo Zulu, é um apaixonado pelo seu negócio. Diferentemente dos resorts caros e impessoais e do turismo do desconforto em pousadinhas de dois tostões, Zulu e Cascaes trabalham para transformar a estadia de seus hóspedes em momentos inesquecíveis com direito a tudo que se precisa para isso: uma boa cama, bom banho, boa comida e companhias agradáveis. O resto fica por conta da natureza.

Esse é, lamentavelmente, um tipo de turismo em extinção no Brasil. Zulu e Cascaes conseguem, no máximo, empatar receita e despesas de suas pousadas. O capricho, como se sabe, está saindo de moda no Brasil. Se eu fosse vocês, visitava os dois endereços abaixo nas próximas férias. Não há amor que sustente negócios deficitários por muito tempo.

Rio do Rastro Hotel Fazenda - Rod. SC- 438 - Km 130 - Bom Jardim da Serra – SC.

Pousada Zululand - Guarda do Embaú – SC, tel. (48) 2832093


(*) por Tutty Vasquez. AQUI


 


Postado por Ana M.C_Portugal

 



[10:27]

O próximo papa

26.02.2005 | Com as crises de saúde cada vez mais freqüentes – e mais graves – do papa João Paulo II, voltam à baila discussões a respeito de seu sucessor. A dúvida é se virá mais um conservador ou se, desta vez, haverá como líder da Igreja Católica versão romana alguém liberal. Por liberal, entenda-se mais inclinado à aceitação de homossexuais, talvez de abortos, no mínimo tolerante com o uso de contraceptivos.

O argumento liberal é que o ultraconservadorismo de Karol Wojtilla está alienando católicos romanos em todo o mundo, afastando famílias da Igreja. É bem provável que estejam certos. Mas uma olhada para o lado, para a crise da Igreja Anglicana, pode indicar o tipo de abalo sísmico que aguarda a Igreja de Roma quando finalmente vier um papa disposto a encarar o mundo atual.

Em finais de 2003, a Igreja Anglicana dos EUA – lá chamada Igreja Episcopal – consagrou Gene Robinson bispo de New Hampshire. Pai de duas filhas, avô de uma neta, desde 1989 Robinson vive com Mark Andrews, seu parceiro. Passou por psicoterapia para livrar-se do homossexualismo, permanece amigo da ex-mulher, é militante da causa gay. E é bispo. Desde sua nomeação, com muita cautela, tanto a Igreja Episcopal como a Igreja Anglicana do Canadá vêm realizando casamentos entre parceiros do mesmo sexo.

Embora a Igreja Anglicana tenha, no Arcebispo de Canterbury, uma espécie de patriarca no modelo católico do Bispo de Roma – o Papa –, sua organização é mais descentralizada. Por outro lado, embora tenha lá suas semelhanças com os movimentos protestantes do cristianismo, também não é uma igreja protestante. É praticamente católica em seus ritos, adora a Virgem Maria. Tem, com a Igreja de Roma, uma relação íntima como aquela mantida com os Católicos Ortodoxos. Não raro, sacerdotes anglicanos deixam sua igreja para serem nomeados sacerdotes católicos. São mais parecidos que diferentes.

Agora, nesta última semana, líderes anglicanos de todo o mundo pediram às Igrejas dos EUA e do Canadá que não enviem representantes oficiais às reuniões da Comunhão Anglicana, que agrupa os principais sacerdotes. Na Grã-Bretanha, os fiéis estão divididos. Uns defendem que o exemplo norte-americano e canadense deve ser seguido; outros acham que trai a Bíblia. Mas a maior oposição vem dos anglicanos da África, imensamente mais conservadores. Temem que uma aceitação do homossexualismo pode levar fiéis a bandear para igrejas protestantes ou, até mesmo, para o Islã. E mesmo o apoio do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, Nobel da Paz, não adiantou muito.

O mesmo tipo de crise atingiu a Igreja Anglicana há algumas décadas, quando passou a ordenar mulheres. Hoje já não causa tanto choque. E o pedido de que não venham representantes oficiais para a Comunhão não é visto como censura – representantes virão, ao longo deste semestre, para que apresentem suas visões. O processo, no entanto, será traumático e doloroso.

O grande problema é que as transformações sociais do século 20 foram intensas, profundas e muito rápidas. Nos anos 40 e 50, Karol Wojtilla não era visto como um reacionário. Dentro de um país particularmente conservador como sua Polônia natal, ele foi um dos primeiros padres a falar abertamente sobre sexo com os jovens. De maneira alguma para incentivar sexo antes do sacro matrimônio, mas para reconhecer tentações e discuti-las.

Em finais dos anos 70, quando foi alçado a papa, ele trazia outros dois trunfos. Um, o de ser um bispo que vinha de trás da Cortina de Ferro, que de fato conhecia o mundo comunista em suas entranhas. João Paulo II é um dos grandes responsáveis pela queda do Comunismo em seu país e, portanto, pela crise que seguiu, culminando com o desmantelamento da União Soviética.

E foi também o papa que terminou uma longa tradição anti-semita na Igreja Católica Romana. Era importante, no contexto da Guerra Fria, porque Israel era importante no Oriente Médio. E era importante porque a Igreja teve um papel deprimente durante a Segunda Guerra: ela se calou.

Mas acontece que estas são questões que não existem mais – e Wojtilla permaneceu papa uns 15 anos além. A Revolução Sexual se firmou, a sociedade é outra, há novas expectativas. Conseqüências da Revolução Sexual são que mulheres não ocupam mais, no mundo, posições subalternas; o casamento entre homossexuais está a um passo de ser reconhecido. Talvez demore alguns anos, ainda, mas nos grandes centros urbanos já tem legitimidade social. E sexo antes do casamento, na verdade, é uma questão irrelevante. Não existe mais – soa como arcaísmo.

Para que a Igreja Católica Romana volte ao mundo real, terá de lidar com essas questões. Não será fácil, pois os movimentos conservadores ainda são fortes. O problema é que, no momento em que ela não representa mais o bojo das pessoas, perde a relevância. Deixa de fazer parte da vida comunitária e passa a ser apenas uma tradição, uma coisa do passado que, lentamente, vai sendo esquecida. Não é difícil perceber esses efeitos em países como o próprio Brasil.

Quando estourou agora quinta-feira, numa reunião em Brasília, a notícia de que João Paulo II tinha sido novamente internado, desta vez para uma traqueostomia, um representante da CNBB comentou: “Já vai tarde”. Parece de uma crueldade, de um anticatolicismo absoluto. Mas está na hora de um novo papa. Não será fácil: precisará mudar muita coisa e rápido, coisas que já deviam estar sendo mudadas, lentamente, há duas décadas. Vai ser difícil e talvez não seja questão de sobrevivência. Mas de manter-se relevante.


(*) por Pedro Dória. AQUI


 


Postado por Ana M.C_Portugal

 



[10:09]

UMA ESTRADA À MARGEM DA HISTÓRIA (*)

23.02.2005 Um dia, o Governo Federal achou por bem traçar duas estradas, uma de norte a sul, outra de leste a oeste, cruzando a Amazônia. Ao longo dos anos 70 e 80, ainda durante o Regime Militar, espalharam-se à beira de ambas, principalmente da que ia de Cuiabá a Santarém, uma série de colônias. É neste entorno que ocorrem os conflitos que levaram à morte a irmã Dorothy Stang.

Com a democracia e a pressão ecológica, quem foi para lá se transformou em transtorno – e vilão. Com ou sem motivos, o Estado faltou com suas promessas. Para conhecer a situação, NoMínimo foi a Guarantã do Norte, última cidade de Mato Grosso antes da divisa com o Pará.

A situação fundiária é tão confusa que, ainda hoje, Mato Grosso e Pará disputam a posse de 2,4 milhões de hectares – cada hectare são 10 mil metros quadrados – nos arredores. Embora diariamente o cartório de Guarantã registre compras e vendas de terrenos, quase ninguém tem título de propriedade. Oficialmente, as terras amazônicas, não apenas de lá, pertencem à União.

E, em toda a região, a história começa pela estrada que faz seu canto de chamado ao norte, onde a terra é muita. Assim como a morte.


Murillo Valle Mendes estava atrasado. Reunidos na sede do Lions Clube, os empresários mordiscavam ansiosos os comes do bufê, a festa preparada, os envelopes lacrados com propostas. Mas Murillo não chegava. Num canto do salão, Samuel Mendes – seu sobrinho, ou filho, ninguém sabia ao certo – tentava contato telefônico. Não conseguia. Devia estar voando ainda. A meia hora de atraso virou uma, então duas. Três.

Samuel havia chegado fazia uns quinze dias a Guarantã do Norte, a última cidade em Mato Grosso antes da divisa com o Pará, a 725 quilômetros de Cuiabá. Consigo, trazia tratores alugados na região, caminhões, um sorriso e o crachá da Mendes Júnior. Registrou-se no hotel, explicou que cuidaria da pavimentação da BR-163. Sua empresa ganhara a concorrência. Algo a ver com as PPPs do governo Lula – era obra grande. No trecho mato-grossense da estrada, ainda são uns 20 quilômetros de terra na estiagem, lama na chuva, serviço para uns 14 milhões de reais.

Pedro Doria


Uma madeireira a pleno vapor atrás da prefeitura
Samuel não parou de trabalhar um segundo durante os últimos quinze dias de janeiro. Colocou anúncio procurando pedreiros e serventes, contratou tantos quanto apareceram. Então, no lado paraense, começou a erguer o acampamento. Acordou a compra de um hotel para os engenheiros e executivos da empreiteira, com um cheque da dona do hotel adquiriu uma farmácia para dar apoio às obras e tratou de levar os medicamentos para o posto avançado.

Visitou a cooperativa Cira Braço Sul e fez uma proposta à diretoria. Teriam a exclusividade no fornecimento de leite e queijos para o restaurante do acampamento, a licitação seria ajeitada para isso, mas em troca precisariam oferecer uma ajuda de custo – 10 mil reais. Visitou cada loja de material de construção, cada empresa de telefonia, de elétricos – visitou quem pôde e, para quem aceitou, quase todos, sugeriu acertos equivalentes, invariavelmente maiores.

Uma certa aura de felicidade, contágio pela simpatia de Samuel talvez, ou pelo alívio de que o pesadelo da lama estava para chegar ao fim, espalhou-se pela cidade. E ele parecia ter gostado de Guarantã, até comprou uma fazenda. Não que fosse tudo em paz – uma equipe da emissora local da Record foi expulsa do acampamento aos berros. Samuel só dava entrevista à Globo. Mas era para o bem.

E enfim conseguiu contato com o telefone do presidente da Mendes Júnior. Tinha sido uma pane no avião, algo assim – estava parado em Sinop. Samuel Mendes pegou o carro para buscá-lo e nunca mais voltou. Levou 1,5 milhão de reais consigo, carteiras de trabalho, pilhas de caixas de remédio. Na empreiteira, ninguém sabe de qualquer contrato para pavimentação da estrada.

Uma terra sem homens

Pedro Doria


Táxis usam o sinal perpendicular para correr na estrada
A estrada: 3.995 quilômetros que cortam o mapa brasileiro do Rio Grande do Sul ao Pará, 1.760 quilômetros no trecho Cuiabá-Santarém, o maior corredor de escoamento do país. É por ela que segue para o mundo boa parte da soja que engorda o PIB, é em suas bordas que alguns dos piores conflitos agrários acontecem, nos seus arredores caiu morta a irmã Dorothy, como caem milhares de anônimos. Foi ela que embalou no rumo norte o sonho militar do Brasil Grande. Integrar a Amazônia para não entregar. Uma terra sem homens para os homens sem terra. Uma cicatriz de barro e asfalto ao longo da maior floresta tropical do mundo, sem a qual o Brasil não seria viável economicamente.

Guarantã do Norte é como todas as cidades amazônicas à beira da Cuiabá-Santarém – da BR, como a chamam. Os humores do povo vêm e vão de acordo com as chuvas, com a trafegabilidade. A cidade, como algumas ao sul, como tantas ao norte, foi criada para que a estrada existisse. Em 2004, um único pequeno fazendeiro perdeu 700 mil reais em soja porque os caminhões não atravessaram a lama em tempo. Na pequena delegacia civil, há uns risinhos de corredor por conta da história de Samuel Mendes – risinhos que disfarçam a compreensão. Não há tanta ingenuidade, outros golpes não vingariam – mas este envolveu a estrada, sua esperança mais cara.

A marca da estrada, o contraste entre lama e asfalto, sente-se em cada veículo. Nas picapes, melhores e piores, que circulam pela cidadezinha. Nos táxis. Nenhum apresenta o sinal TÁXI no capô paralelo ao pára-brisa; estão todos de lado, quem vê o carro de frente não lê. Os motoristas mais jovens surpreendem-se ao descobrir que no resto do mundo é diferente. Mas fica ali, perpendicular à frente mesmo, para que o vento não o leve longe quando está na estrada a 110 por hora ou mais. O asfalto pouco dá sede de correr. Todos correm.

A marca está também nas motocicletas – o segundo veículo de quase todos é uma moto e, porque quem usa o segundo veículo costumam ser as mulheres, às vezes parece, de cada três motos, duas têm uma mulher no comando. Mas a experiência da estrada encontra-se, principalmente, nos inacreditáveis jericos. São carros artesanais, como que carroças levadas a motor de diesel, a partida muitas vezes dada pelo puxar de uma corda, pedais de madeira, volantes e marchas de carro velho, uma lona que proteja da chuva. É a picape dos pobres que atravessa a lama que carro popular não enfrenta, seu motor faz um po-po-pó na combustão que serve de trilha sonora para Guarantã.

A BR é como a linha de trem no faroeste que faz seu chamado. Se no faroeste americano as ruas eram de chão, mas nos saloons as moças vestiam veludo francês, algo parecido ocorre aqui. Em tudo quanto é lugar em que se entra em Guarantã, estão lá um ou mais computadores ligados à Internet por banda larga. Rarissimamente os monitores têm tubo de imagem. São flat, a última tecnologia que na cidade seria um luxo. Não é uma cidade descolada da modernidade: todos têm celular, tevê a cabo e, quando há dinheiro, ar condicionado. É quente no verão, de um calor desagradável, úmido, que empapa a roupa mesmo de quem não está se mexendo. Um armário embutido para a cozinha feito de mogno sai por uns 700 reais. Afinal, na linha do horizonte ao redor todo, sólida, intransponível, fica a mata.

Só é intransponível por impressão. Há 25 anos, Guarantã do Norte não existia. Era Amazônia fechada. Há 35 anos, enquanto o resto do Brasil celebrava o tri no México, caminhavam desconhecidos por aquela mesma terra os índios kreen-aka-rorê, ou panarás, que tinham parca idéia da existência de uma gente diferente no além mata. Aí veio a estrada. Então, os colonos. Vieram o ouro, a malária, as madeireiras, o gado, a soja; os garimpeiros, os posseiros, os pistoleiros, os grileiros, os grandes proprietários, os sem-terra. E, no fundo, todos parecem ter sido um pouco de tudo em algum ponto de suas vidas: sem-terras, garimpeiros, posseiros, grileiros, proprietários.

Primeiro contato

Pedro Doria


BR-163: embalando os sonhos rumo ao norte
Quando Cláudio Villas Bôas atravessou o rio Peixoto de Azevedo no dia 2 de fevereiro, em 1973, tinha 57 anos. Na margem para a qual se dirigia, ariscos, um grupo de panarás o esperava – Cláudio oferecia uma faca de presente. Queria dar-lhes pessoalmente, eles preferiam que a depositasse numa árvore para pegarem-na. Não falavam nenhum dos dialetos que o antropólogo conhecia. Um encaixou flecha no arco, esticou a corda – outro mandou que baixasse a arma. Cláudio fingiu machucar o pé, caiu no chão ganindo. Curioso, um terceiro panará aproximou-se. Cláudio o abraçou. Do outro lado do rio, seus companheiros de expedição riam. Era alívio da missão cumprida.

Uma longa missão. Os panarás tentaram contato pela primeira vez em 1967, quando se aproximaram em grupo de uma pista de pouso na Base Aérea do Cachimbo, alguns quilômetros ao norte dali. Um militar desastrado, achando que se tratava de ataque, abriu fogo – eles debandaram, alguns mortos. Ficaram mais ariscos do que já eram. Mas, quando o governo Médici anunciou os planos conjuntos de traçar duas grandes estradas, uma de leste a oeste, outra de norte a sul, cruzando a Amazônia, o isolamento teria de chegar a um fim. Os operários empregados na Cuiabá-Santarém fatalmente cruzariam seu caminho e o resultado desse encontro traria conseqüências imprevisíveis.

A missão de contato coube aos irmãos Orlando e Cláudio Villas Bôas, fundadores do Parque Nacional do Xingu, talvez os maiores conhecedores das coisas indígenas. A expedição teve início em janeiro de 1972, quando as obras da estrada, tocadas pelos 8o e pelo 9o Batalhões de Engenharia e Construção, já estavam iniciando. Um operário chegou a ser flechado na perna – e o governo não admitia qualquer atraso. Os tratores, as serras-elétricas, estava tudo em franca operação. Quando o presidente Ernesto Geisel inaugurou a Cuiabá-Santarém, em outubro de 1976, os índios já haviam sido transferidos para o Xingu, o leito da estrada fora elevado, tudo devidamente terraplanado – mas em quase toda extensão só havia mato ao redor. E, até hoje, apenas 40% do percurso está pavimentado.

Nos anos seguintes, veio o esforço de colonização – em Guarantã, os pioneiros chegaram entre o final de 1980 e meados de 81.




PARTE II: A MORTE

A irmã Vanda Heleusa vira as páginas de seu caderno de espiral, as pontas das folhas amareladas pelo tempo. Irmã Vanda sorri, um sorriso plácido de que nada pode incomodá-la, de que está em paz e que ajudará em todo o necessário. Sempre. “Mortos, mortos”, ela balbucia para si mesma e vira as folhas, leva polegar e indicador aos lábios para umedecê-los e tornar a virar: “Está por aqui, eu tenho esses números, lembro que anotei”. E então a tabela se mostra: natimortos, causa malária, outras causas, homens, mulheres, crianças, até 81, até maio de 82; e, além da tabela, uma longa lista de nomes, cada um com data ao lado. Cada nome.

O plasmódio só existe onde há calor, mosquitos anófeles e gente. Na saliva do mosquito fêmea, o protozoário se reproduz e toma forma de esporos. Perante contato com sangue humano, os esporos seguem para o fígado, onde se dividem, passam por uma metamorfose e de lá são bombeados coração afora. Pouco após uma semana da picada, vêm as dores de cabeça, no corpo, o fígado começa a processar violentamente, enche-se duma bile escura – vômito preto. Febre, tremores. Falência hepática, renal, líquido nos pulmões, convulsão, coma. Morte. Não havia hospital.

Em finais dos anos 70, as Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário viviam no Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com o Paraguai. Centenas de famílias brasileiras ocupavam terras arrendadas no país vizinho, uma crise que se incrementava a cada segundo. O general Alfredo Stroessner as queria fora. Na virada para 1980, as irmãs escreveram ao general João Figueiredo pedindo ajuda – notícia de ajuda chegou na Páscoa.

“Quando cheguei lá, chamei as irmãs e falei, 'gente, vocês pensem duas vezes, porque tem malária, é mato fechado', e aí, quando elas vieram, e vieram uns homens para conhecer, levei eles no garimpo, mostrei o lugar, já tinha a Cotrel, e o pessoal achou bom, quis vir.” Aos 53 anos, José Humberto Macedo é o prefeito de Guarantã do Norte – e nome do estádio municipal. Em finais de 1980, ele tinha 25 anos, era o executor do Incra no Projeto de Assentamento Conjunto Incra-Cotrel, o homem do governo federal naquele cantão da Amazônia.

Os primeiros a vir, em dezembro de 80, não foram os brasiguaios, foram gaúchos de Erechim, cujas terras Brasília fez alagar para a construção da Barragem de Paço Real – não havia obra pequena no tempo militar. Faziam todos parte de uma cooperativa, a Cotrel, e a Cotrel criou filial no norte do país para fornecer algum tipo de infra-estrutura aos associados. Cada uma das 1.200 famílias gaúchas ganhou um lote de 100 hectares para desmatar, semear, erguer casa e viver à beira da Cuiabá-Santarém.

“A irmã Cleunice que teve a idéia de a gente acompanhar os brasiguaios, ela disse que se alguma outra das irmãs acompanhasse ela ia também, a irmã Glícia falou que vinha e uma sobrinha dela, a Maria Lúcia, estava procurando alguma coisa e quis vir e eu morava no sul, na época, num seminário, e acabei topando a parada”, lembra irmã Vanda. “Porque a gente tinha participado desse processo de encontrar um lugar, não é? - e então a gente sentia que tinha uma responsabilidade nisso. Aí passamos 80 preparando a mudança, dividindo os grupos e, essa foi uma idéia da irmã Cleunice, em cada grupo ela procurava botar alguém de mais estudo porque aquela seria a professora, você vê, as crianças só perderam o ano de 81, em 82 já tinha escola. De dois em dois dias, quatro ônibus vinham, a estrada era de terra ainda, e começamos a chegar em junho de 81. Até setembro foi terrível.”

No total, o Incra assentou 500 famílias de brasiguaios, 2.177 pessoas. Em uma semana, veio a febre. Quase todo mundo teve. Quase toda família perdeu alguém. Em duas famílias, morreram pai e mãe. Numa delas, a criança mais nova não tinha 10 anos. Os primeiros caixões, fabricavam-nos com madeira de lei. Depois davam as tábuas para que as famílias construíssem elas próprias. No fim, enterravam os corpos embrulhados em lençóis. Primeiro enterraram nos próprios lotes, depois o executor José Humberto demarcou uma área para o cemitério – em um ano, parecia plantação de cruzes. Antes do primeiro ano bom: 10 adultos, 4 adolescentes, 21 crianças, 49 natimortos. Ninguém chega a uma conclusão a respeito do número final. “Mas, para cada morto, nasciam dez” emenda o prefeito. Ele se casou com a menina Maria Lúcia, sobrinha de uma das freiras.

Corpos, urubus e orgias

Pedro Doria


O Estádio Municipal, que leva o nome do prefeito
Após o primeiro contato com os panarás, em inícios de 1973, tudo pareceu festa. Pelos cálculos dos irmãos Villas Bôas, a população indígena descoberta nos arredores do que seria Guarantã do Norte poderia ter algo entre 300 e 600 pessoas espalhadas por dez aldeias. Começaram a morrer de gripe. De malária, índio não cai, mas o gripado de branco e de preto leva das dores do corpo à febre, à morte. Assustados, sem entender exatamente o que se passava, não enterravam os corpos, largavam-nos para urubus e abandonavam aldeias, acuados.

Quando começaram a morrer às dezenas, acendeu a luz vermelha na Funai e teve início a briga política. Cláudio Villas Bôas, que tinha feito o contato, foi destituído da responsabilidade e retornou ao Xingu. Ele e o irmão Orlando queriam férias – foram para o Japão. Embora ainda não inaugurada oficialmente, em 1973 mesmo a BR-163 foi aberta ao tráfego – e “O Globo” flagrou, na primeira página, uma índia panará pedindo biscoito a um motorista de ônibus. Desestruturaram-se – não queriam plantar, pedir comida era mais fácil.

E então veio o sexo. Índias, seduzidas pelos homens do Batalhão de Engenharia e Construção, terminavam em suas camas. Morriam de gripe, tinham diarréia por conta do açúcar que não conheciam e não queriam deixar de comer, morriam ao chegar em casa pelas mãos dos maridos enciumados. E depois das mulheres, foram os homens. Um sertanista, empregado da Funai, dentre os sucessores de Cláudio Villas Bôas, foi acusado em relatório oficial de apresentá-los à homossexualidade. Orgias no meio da mata. Muito rapidamente após a festa do primeiro contato, a situação dos panarás deteriorava-se a olhos vistos.

De volta do Japão, Orlando e Cláudio entregaram-se ao jogo de gabinete, de corredores do Planalto. Queriam trazer os panarás para o Xingu, a alguns quilômetros dali. Nem todos os indigenistas achavam boa a idéia de tirá-los da região com a qual estavam acostumados. Mas, em janeiro de 1975, exatos dois anos após a travessia do rio Peixoto de Azevedo por Cláudio para o primeiro abraço, os panarás deixaram sua casa em aviões do exército. Sobravam 79 dos 300 a 600 iniciais.

Ao longo de toda a década de 80, sua existência no Parque Nacional do Xingu foi sobrevivência e pouco mais. Na recepção, para o cumprimento, estava o chefe Raoni dos caiapós, seus inimigos tradicionais. Sentiram-se implorando por casa. Como eram muitas as mulheres, homens de outras tribos requisitaram-nas para casar. Os homens panarás encolheram-se. A taxa de natalidade caiu. As frutas com as quais estavam habituados, as carnes que comiam, não tinha nada do tipo no Xingu, outro ecossistema. Os rios tinham peixe pouco e diferentes. Arrancados da vida semi-nômade que tinham havia centenas de anos, foram lançados repentinamente no século 20. Parecia que rumo à extinção.

Ciclos econômicos

Na terra que largaram, as novas colônias não tinham vida mais fácil. Nos primeiros anos de Guarantã do Norte, o gerador que fornecia energia ficava ligado até às 22h, fora nos picos de malária. Então, para que irmã Vanda Heleusa checasse cada lâmina ao microscópio, deixavam mais tempo de luz. Os colonos foram para plantar, mas o chamado do ouro foi mais forte. Estava lá, na beira dos rios, bastava cavucar a terra que tinha ouro, houve quem não precisasse sair do próprio lote para garimpar.

E com o ouro, além da riqueza, vieram as boates – que não são lugar para dançar, são prostíbulos –, a falta de higiene no garimpo de homens amontoados uns sobre os outros. Na primeira rua de Guarantã, abriu-se um corredor de lojinhas de Compro Ouro. Maridos largaram suas famílias, passaram a beber, e fazia calor o verão todo, todo verão, que era o momento de a malária correr sua foice. Sentado à sua mesa, o presidente local do Sindicato dos Trabalhadores Rurais dá um suspiro. Valter Neves de Moura tem 35 anos, veio criança. Hoje é ligado ao MST, mas foi como todos, grileiro, posseiro, garimpeiro. “Sabe, a gente que é daqui vê: a floresta tem seus segredos, ela também sabe se defender.”

Quando o preço do ouro despencou, rumo aos anos 90, quando já era preciso cavar um metro ou mais para encontrá-lo, vieram as serrarias – o ciclo das madeireiras. Entrava um sujeito na mata, marcava as árvores boas, vinha depois a equipe das motosserras. Até hoje, toda hora chega alguém e põe anúncio no rádio local angariando braços. O responsável chega com um topógrafo no meio da mata, diz que é para cortar 40 quilômetros num sentido, quarenta no outro, fecha o quadrado – põe abaixo.

Em 2004, onze trabalhadores de Guarantã contratados para o grilo estavam calmamente derrubando um naco de Amazônia quando se depararam com pistoleiros contratados por outro interessado na terra. Foram mortos todos.

Mas quando a morte não vem e já não há árvore que preste, taca-se fogo, a cinza que sobra fertiliza – a terra vira capim para pasto ou, se não tiver morro, é boa para cereal, para arroz, para soja. Está no fim o ciclo econômico das madeireiras e no início o da nova febre: a soja, do PIB, da balança comercial, do Brasil que está crescendo. Quando a morte do homem não vem, quem morre é a mata.

Duzentas cruzes

Pedro Doria


Dona Loredana: dolorosas memórias da colônia
Loredana Balbinot tem 37 anos – mas antes precisa fazer a conta para lembrar. Usa seus cabelos negros bem curtos, tinha 13 anos quando chegou com a família a Guarantã. Prosperaram. Ela, que era a mais velha, hoje é dona da principal farmácia: a Farmácia Catarinense. Seus dois irmãos homens são fazendeiros, as irmãs formaram-se todas, uma é médica. Loredana recorda:

“A gente morava na divisa do Paraguai, em Mundo Novo, e o pai puxava tora, quer dizer, ele roubava madeira, né?, do Paraguai, só que as coisas estavam ficando difíceis e as freiras lá da pastoral fizeram um cadastro de 500 famílias para virem para cá, o governo deu a terra para as freiras, e o pai veio aqui em maio de 81. Em julho ele voltou para buscar a gente, a mãe e sete filhos.”

“Isso aqui tudo era mata. A gente fez uma casa de palmeira, tinha muita palmeira de palmito aqui, e, como era época de seca, a gente fez essa casa de palmeira, com chão de terra mesmo. Dormíamos na tarimba, que é uma esteira de palmito com palha e folha. Acho que a gente viveu uns seis meses assim, casa mesmo, mais direita, a gente só foi ter nuns três anos, quando o pai derrubou uns paus e melhorou a casa; com assoalho, demorou uns quatro anos.”

“Para comer a gente matava bicho do mato e plantava mandioca, milho, a gente já veio com as sementes. O feijão, o arroz, o óleo que a gente tinha trazido deu só pra uns vinte dias. Ia lá no vizinho para moer milho e dizia que era pro cachorro, que a gente tinha vergonha, mas era pra gente mesmo. Comia muito tatu e palmito, hoje não consigo nem ver palmito, tenho horror. De noite, aparecia onça pintada lá no barraco.”

“Então, teve um dia, acho que foi agosto, a gente chegou em julho e isso foi em agosto, a irmã Glícia foi perguntar pra mãe - o nome dela é Elita Camila, mas todo mundo chama a mãe de dona Carmen -, e a irmã Glícia disse ‘dona Carmen, a Loredana não quer trabalho?’, e eu fui lá prum hospital que tinha em Peixoto, ela levou umas oito meninas, e o médico topou comigo e disse ‘você tem cara de enfermeira’, acho que é porque eu era branquinha, que as outras eram moreninhas, porque ninguém tem cara de enfermeira, né?”

“Aí eu lembro que nunca tinha ganhado tanto dinheiro. Assim, eu tinha o costume, achei que fosse trabalhar de doméstica, e lá no sul, se eu ganhava um, aqui eu fui ganhar oito vezes isso. Lembro que, com o primeiro salário, comprei 12 latas de leite Ninho pra Fernanda, que é minha irmã. Ela nasceu em fevereiro; então, tinha o quê? Uns sete meses. Aí, com o segundo salário, foi uma porca, um saco de trigo, uns sessenta quilos, três galinhas e um galo, que também não adiantava ter galinha e não ter galo.”

“O pai derrubava mato pros outros, era disso que vivia. Aí, acho que foi no quinto ano da gente aqui, ele foi pro garimpo, mas antes ele construía escola pro Incra, era carpinteiro. Ele largou o garimpo rápido, montou uma serraria. Aqui não tinha médico, só ambulatório, e a nossa família deu sorte porque ninguém morreu de malária, mas acho que na nossa rua toda família perdeu alguém. Assim, das quinhentas famílias, depois duns três anos, acho que eram umas duzentas cruzes lá no cemitério. Até 93 ainda morria gente.”

“Mas o pai fez um dinheiro tanto que a nossa casa, era lá que tinha a primeira tevê, e isso deve ter demorado um tempão, era uma tevê preto e branco, a gente de noite tirava a bateria do caminhão e ligava nela, e vinha todo mundo ver televisão, mas às vezes as velhas queriam ver novela e o pai chegava bêbado e mandava todo mundo embora porque ele queria ver futebol. Mas não era bêbado que batia, não, ele ia dormir. Ele separou da mãe, faz o quê?, uns anos, só. Mas é engraçado que eles ainda moram um perto do outro.”

“No ano passado, teve aquele evento, um de slides, com as fotografias do início de Guarantã e a gente foi lá. Eu não sei, porque aquilo foi me dando um aperto, fui assim, me esquentando, abrindo a blusa, e não deu não, tive de sair.”



PARTE III: A POSSE

Em finais de 1991, um grupo de seis índios panarás retornou às terras que tinham deixado em 1975, pela primeira vez. O documentário norte-americano “Before Columbus” (“Antes de Colombo”) registrou a cena do encontro do chefe Akè Panará com um grupo de garimpeiros. Ele estava transtornado – seu discurso foi reproduzido no livro “Panará, a volta dos índios gigantes”.

“A gente ficava aqui, neste trabalho”, disse Akè, de borduna e cocar, “Eu estou vendo e não estou gostando nem um pouco. Esta terra aqui era nossa. E agora eles comeram. Agora está tudo feio. Eu estou triste de ver o que foi feito aqui, o que a mão do branco fez. O lugar onde eu nasci. Destruíram tudo. Isso aqui era parte da nossa terra. Aqui era uma terra boa. Eu não gosto do trabalho dos garimpeiros. Vocês mataram a floresta. O rio acabou. Acabaram os peixes. Aquilo que a gente viu, aquele lugar, do avião, vocês não vão para lá, não.”

Na viagem, Akè e os seus encontraram apenas um trecho da região onde viviam em que a mata ainda era considerável. Estavam preparando um projeto de reserva – queriam deixar o Xingu, voltar para casa. Mas o resto de sua casa, por toda parte, era barro enlameado de estrada, barro enlameado de garimpo, pasto de boi, plantação e até barro de nada, barro abandonado.

“Essa terra aqui, onde eu nasci, já foi. Lá, onde a gente viu, vocês não podem ir pra lá, não. Por que o chefe de vocês mandou vocês destruírem a nossa terra? O chefe de vocês tem que entender que vocês não podem ir pra nossa terra. Eu caçava aqui. Pescava aqui. Aqui era minha terra. Não é a terra de vocês. Se o chefe mandar branco pra lá, vocês acham que eu estarei de mão vazia? Não. Olha que eu estou aqui com a borduna. Eu não estarei desarmado se o chefe mandar vocês pra lá. Vocês comeram a terra aqui. Lá, eu vou estar com a borduna e nós vamos brigar. Olha esta terra, aqui. Eles comeram o lugar onde eu nasci. Tudo acabou. Eu vou explicar pro chefe dos brancos que vocês acabaram com tudo, com a floresta e com a água.”

Entre 1995 e 96, os panarás todos voltaram, uma nova casa demarcada entre os municípios de Guarantã do Norte e Altamira (PA). Em outubro de 1997, a Justiça deu ganho de causa aos índios panarás, num processo movido contra Funai e União para reparação de danos. Foi a primeira vez que um povo indígena venceu causa do tipo.

Jogo de máscaras

Geraldo Sehn tem 41 anos, 23 passados em Guarantã do Norte, última cidade antes do Pará na Amazônia mato-grossense. “Olha, nós viemos de 2.500 quilômetros para cá. Se quer nos tirar, vai ter de tirar no caixão. A gente não teve nenhum financiamento, abrimos isso aqui tudo no peito. Eu sou grileiro. O sujeito que vai hoje para o Pará e abre uma picada, é esse que quer terra mesmo, não são esses sem-terra aí. Porque ele vai lá, ele abre e planta. O fazendeiro, não, ele nem ocupa e já vai demarcando.”

Grileiro: o homem que chega numa terra aparentemente sem dono, desmata, ocupa, revende. Posseiro: faz o mesmo, mas planta ou põe gado – mora. Colono: chegou por convite ou imposição do governo federal. Fazendeiro: grande ou pequeno proprietário, não importa, produz em sua terra – que ganhou como colono, comprou de grileiro ou fez-se dono posseiro. Sem-terra: aquele que acampa na beira da estrada e vez por outra invade fazenda.

Na verdade, no fundo, nenhuma destas palavras parece importar muito. São usadas com flexibilidade, o grileiro confunde-se com o posseiro, com fazendeiro ou com o colono. Não raro, um lança olho interesseiro na terra do outro, na terra de ninguém. Ser grileiro, posseiro, fazendeiro ou colono é questão de momento da vida, não de fato consumado. E confundem-se todos até mesmo com os sem-terra, porque se é grileiro contratado por latifundiário para abrir picada num dia, feito o serviço, vai para a beira da estrada no outro erguer a bandeira do MST.

“Aqui em Guarantã, as coisas estão melhores, já não há tanta violência.” Geraldo Neves de Moura, 35, é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ligado à CUT e ao MST. “Já fui garimpeiro, desmatei irregularmente, hoje sou agricultor familiar. A gente já aprendeu a fazer as coisas, já sabe que não pode desmatar na beira de rio, já sabe como fazer a queimada só dum trecho sem comprometer a mata, a gente só faz queimada aqui depois do período seco, depois de duas chuvas. Mas, de vez em quando, ainda tem problema, ainda topa com pistoleiro. Lá em cima, no Pará, compara com Gaza. Não tem diferença.”

Em novembro último, justamente quando um grupo de técnicos chegaria para uma sindicância interna na sede do Ibama em Guarantã, as janelas laterais do prédio foram arrombadas, espalhou-se gasolina pelos arquivos. O incêndio lambeu tudo. As madeireiras acusam o órgão de corrupção, de que têm de dar dinheiro para conseguir licenças de venda mesmo quando legítimas. A investigação ainda corre na Polícia Federal.

Portarias e vacas leiteiras

Pedro Doria


Vista aérea do que foi a Amazônia
Dono de terra quase ninguém é – não com escritura lavrada em cartório e com selo da República. Na Amazônia, as terras todas são da União. Mesmo nos casos de colonos que tiveram suas terras submersas no Rio Grande do Sul, que foram indenizados com a promessa de 100 hectares no norte, título ninguém vê. E, sem título, não há como pegar empréstimo no banco. Como, sem título, ninguém tem qualquer segurança de propriedade, um pode invadir o que é do outro e, vez por outra, da briga sobram defuntos.

Alberto Cesário tem 65 anos. É o seu Betinho – fala mal: confunde concordâncias, troca o l pelo r, acusa o primário incompleto. Suas contas de cabeça têm velocidade atordoante, conhece profundamente legislação ambiental, burocracia sobre terras e seu negócio. Faz melhoramento genético em gado, vende embriões puros de origem, bicho premiado, tecnologia de ponta. É nervoso, talvez tímido – “às vezes pra falar dá uma tremedeira na barriga” – e preside o Comitê Pró Regularização Fundiária do Norte do Mato Grosso. Rapidamente explica que é coisa de fazendeiro, mas não tem nada a ver com a UDR – “a gente tem grande, mas também tem pequeno”.

“Sabe qual é o problema do título?”, seu Betinho pergunta para responder na seqüência. “Uma vaca boa produz 15 litros leite por dia, mas custa 1.500 reais cada. Uma vaquinha qualquer produz uns três litros. Se o sujeito compra cinco vacas boas e uma ordenhadeira mecânica, a filha dele, o filho, vão ajudar e ele vai produzir 75 litros por dia, vai vender o leite, vai fazer queijo, a gente tem uma muzzarela boa aqui, que vende no Rio, em São Paulo. Não é dessa muzzarela que esfarela, não. Mas, se ele só tem vaquinha fraca e não tem dinheiro para ordenhadeira, então ele não sai do lugar, fica sem dinheiro, o filho e a filha vão pra cidade, e na cidade vão ser o quê? Vão trabalhar em quê? Ela vai se prostituir, ele vai se meter com vagabundo. Sem título, não tem empréstimo, não tem vaca boa, o filho vai embora.”

É de Betinho uma das propostas que o governo mato-grossense fez ao Planalto, mas que não trouxe resposta. Em troca da regularização de suas propriedades, os fazendeiros deixariam 50% do total como reserva de mata virgem mais quaisquer nascentes ou caminhos de rio e, do que sobrasse, abririam mão de um percentual para assentamento de sem-terra. Em troca, teriam título. O MST gostou. Brasília diz que não pode.

Em fevereiro agora, os com-terra fecharam a Cuiabá-Santarém na altura de Guarantã do Norte para ver se recebiam uma resposta. Foram ignorados – estão pensando em fechar de novo. O problema é que, embora a Constituição de 1988 reconheça o direito às terras para quem já vive há muito num local, o mecanismo de repassar a posse ainda não foi regulamentado pelo Incra. Falta uma portaria. Ano passado, o próprio Incra ameaçou a retomada de quatro fazendas. Aí desistiram – se acontecer, ninguém diz com todas as palavras, mas terá sangue. Todo mundo sente a lâmina no pescoço.

Com o próprio punho

Pedro Doria


Seu Betinho, ruralista: proposta agradou ao MST
Há outra ameaça, vem do Pará. Poucos dias antes do assassinato da irmã Dorothy, o governador Simão Jatene enviou à Assembléia Legislativa um projeto-de-lei para o zoneamento do Estado. O Vale do Quinze, próximo a Guarantã, mas em terras paraenses, pode virar Área de Proteção Ambiental.

A região – 2,4 milhões de hectares – é disputada. Quem primeiro a descreveu foi o francês Henry Coudreau, em finais do século 19, no livro “Viagem ao Tapajós”. A partir deste trabalho, em 1919, o governo federal delimitou as divisas entre ambos os estados cruzando a Cachoeira de Sete Quedas, como sugerido por Coudreau e, depois, pelo Marechal Cândido Rondon. O traçado da fronteira foi concluído em 1952 pelo IBGE – mas o governo de Mato Grosso contesta. Os técnicos do IBGE, dizem, confundiram o Salto de Sete Quedas do decreto de 19 com uma quase homônima, a Cachoeira de Sete Quedas.

A causa está na Justiça Federal há anos. Se Mato Grosso vencer, a região do Araguaia, a Base Aérea do Cachimbo, um bom naco do sul paraense passa à sua responsabilidade. Por ali, há quem tenha título eleitoral de um estado e do outro. “Se tem coisa que a gente tem horror a ouvir é em APA” – diz um. E, perante a ameaça de ver suas terras transformadas em APA, os fazendeiros do Vale do Quinze preferem estar em Mato Grosso. Lá, o governador Blairo Maggi é produtor de grãos – uma espécie de herói local.

O argumento dos produtores é de que os ecologistas só pensam no macro, em grandes áreas de proteção, e não nas pessoas que vivem ali. “É a gente quem planta, que sustenta o Brasil, não são os engravatados.” Chamam as ONGs de máfia verde. Crêem que deviam, ao invés de ficar traçando APA que ninguém consegue fiscalizar, dedicar-se ao ensino do manejo sustentável da terra.

As famílias que migraram para Guarantã do Norte, Mato Grosso, ao longo da década de 1980 deixaram o próprio sangue na região – e sangraram a mata. Algumas prosperaram, outras não. Em uma das cooperativas, todo mundo tem o nome no Serasa. Há meninas bonitinhas que encaram os homens que passam, olhos nos olhos, e quem não conhece os códigos não entende de imediato que são prostitutas. Algumas com bem menos de 18 anos.

Mas se a impressão é de que nestes últimos anos perderam todos um quê de suas dignidades, isto não é verdade. Foi justamente o contrário. Quem está lá é porque sobreviveu, como diz um jornalista local, “com o próprio punho” – e é mais que um ato falho a troca de “mãos” da expressão pela palavra punho. Não há nenhum inocente – mas todos são vítimas das mudanças políticas, contradições, indecisão e mesmo ignorância do Governo Federal. Em todos, inclua-se na lista, também índios, também a Amazônia.

Epílogo

Para chegar a Guarantã do Norte é preciso pegar a BR toda vida, ou seguir de avião, um bimotor da empresa aérea local Cruiser. A passagem é cara, dá quase 900 reais o percurso de ida e volta, e a viagem longa, quase três horas, com escalas, uma para reabastecimento. De cima, indo ou voltando, a paisagem de todo Mato Grosso parece ser uma grande lavoura de soja. Às vezes, aqui e ali, os rios foram respeitados, há um braço verde para abraçá-los.

O aeroporto de Guarantã, onde táxis esperam os recém-chegados, fica ao lado dum pasto e, dele, de longe, mira-se uma linha verde de árvores. O avião atrasou quase uma hora na viagem de retorno – mas já estava aterrissando quando chegaram os índios, um senhor de bermuda e cocar e um casal de adolescentes. Todos com camadas de tártaro nos dentes que restavam. Quando Cláudio Villas Bôas os encontrou, há 33 anos, os panarás tinham dentes perfeitos, a mudança na dieta lhes foi desastrosa.

Perguntei ao senhor se poderia fotografá-lo, ele fez que não, mal-humorado. Então, o rapaz me procurou, falando português de estrangeiro que ainda não dominou a língua. “Você paga eu, fotografa ele.” O velho sorriu largo, esfregando polegar e indicador na minha direção. Sorri, agradeci, deixei passar a oportunidade.



(*) por Pedro Dória. AQUI


 


Postado por Ana M.C_Portugal

 

 


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