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SIMONE
evoca as suas origens em disco dedicado à obra de Ivan Lins
 in O Dia, Rio Janeiro (06-07-2004)
Tributo
à obra de Ivan Lins, o 30º disco de Simone, Baiana
da Gema, simboliza um recomeço para a irregular
cantora. Além de trazê-la de volta à EMI, gravadora por onde
a artista lançou nos anos 70 seus melhores discos, o belo
CD a reaproxima da MPB mais tradicional através da música de Ivan,
compositor recorrente na fase áurea da discografia de Simone. O
raro primeiro LP da cantora, de 1973, já trazia Chegou
a Hora, de Ivan e Ronaldo Monteiro de Souza.
Em 1979, o estouro de Começar
de Novo, tema do seriado Malu
Mulher, entrelaçou definitivamente as trajetórias de
Simone e Ivan.
Simone reúne no CD ‘Baiana da Gema’ 13 músicas
de Ivan Lins, que faz dueto com a cantora em ‘Dandara’
 Baiana
da Gema coroa a afinidade entre o compositor e a cantora.
O repertório reúne 13 músicas de Ivan, feitas com parceiros
antigos (Vítor Martins) e recentes (Elisa Lucinda, Celso Viáfora,
Aldir Blanc, Joyce, Martinho da Vila). O samba contagiante
que intitula o CD é da lavra poética de Paulo César Pinheiro, que
propõe na letra a interação entre Rio e Bahia (Ivan é carioca
e Simone, baiana).
Quase
todo inédito, o repertório de Baiana
da Gema oscila entre sambas – como É
Festa, outra parceria de Ivan e Pinheiro – e canções escritas
sob ótica feminina. A abolerada Cínica,
letrada por Joyce, é um dos trunfos nesta seara, que já rendeu à
cantora hits como Saindo de mim,
jóia da fase mais profícua da parceria de Ivan com Vítor Martins.
Guardadas
as devidas proporções, Baiana da
Gema está para a obra de Simone como Elis
& Tom está para a de Elis Regina. Ambos trazem uma cantora
imersa na atmosfera musical de um compositor. Ivan toca piano e/ou
teclados nas 13 faixas e assina três arranjos, sendo que os dez
restantes são de Gilson Peranzzetta, pianista íntimo da musicalidade
do compositor, dono de harmonias refinadas (daí seu crescente prestígio
nos Estados Unidos, no mundo do jazz) e nem sempre
reconhecido no Brasil na medida de seu talento. Baiana
da Gema ratifica o valor e a rara inspiração de Ivan
por reunir 13 músicas de boa qualidade.
O amor é a tônica das letras. Aldir Blanc radiografa
o arrebatamento da paixão no blues Por
Favor – êxtase também retratado por Celso Viáfora
na lírica balada Atlântida
(já gravada por Viáfora, assim como Veneziana).
Da reativada parceria de Ivan com Vítor Martins, Simone entoa em
tons suaves as canções Tanto Amor
e Voar. Em clima mais denso,
há Enrosco, letrada por Flora
Figueiredo. É belo contraponto para o samba Parei
Contigo, de verve atrevida que evoca Vou
Deitar e Rolar, jóia de Paulo César Pinheiro e Baden
Powell.
Dandara tem tom afro e remete à obra
de João Bosco, não fosse o filho do compositor, Francisco,
o letrista. Ivan canta com Simone na faixa. Ainda no campo afro,
Saravá! Saravá! reúne as vozes de Martinho da Vila,
Dudu Nobre e Zeca Pagodinho neste tributo ao canto e à vida. Oxalá
Simone prossiga nessa linha e esqueça o brega que embaçou sua voz
nos anos 80 e 90!
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Postado
por Ana M.C_Portugal
